«Sábado de Lázaro»
Memória de Santo Mártir
Conon, o Jardineiro.
Divina Liturgia
Tropário:
Ó
Cristo Deus, dando-nos, antes da tua Paixão, uma garantia da ressurreição
geral, ressuscitaste Lázaro dos mortos; por isso, nós também, como os
filhos dos hebreus, levamos os símbolos da vitória, clamando: Ó
vencedor da morte, hosana nas alturas! Bendito o que vem em nome do
Senhor!
Tropário de São Pedro e São Paulo:
Príncipes dos apóstolos e doutores do Universo, São Pedro e São
Paulo, rogai ao Mestre de todas as coisas que dê a paz ao mundo e às nossas
almas a sua grande misericórdia.
Kondakion:
Ó
Cristo, alegria de todos, Verdade, Luz, Vida e Ressurreição do
mundo, manifestou-se na sua bondade aos que estão sobre a
terra, fez-se modelo da Ressurreição, dando a todos o perdão divino.
Kondakion de São Pedro e São Paulo:
Levaste, Senhor, para descansar e gozar de teus bens, os dois
infalíveis pregadores de fala divina, os príncipes dos apóstolos; pois
preferiste suas provações e morte a qualquer sacrifício, Tu, o único conhecedor
dos segredos dos corações.
Trisagion:
Vós que
fostes batizados em Cristo, de Cristo vos revestistes. Aleluia! (3
vezes)
Glória ao Pai, ao Filho e ao
Espírito Santo, agora, sempre e pelos séculos dos séculos. Amém.
De Cristo vos revestistes.
Aleluia!
Vós que
fostes batizados em Cristo, de Cristo vos revestistes. Aleluia!
Prokimenon:
O
Senhor é minha luz e minha salvação, a quem temerei?
O Senhor é o protetor de
minha vida, de quem terei medo?
Epístola: Hb 12,28-13,8
Leitura da Epístola do Apostolo São Paulo aos Hebreus:
Irmãos, já que recebemos um reino inabalável,
conservemos bem essa graça. Por meio dela, sirvamos a Deus de tal modo que o
agrademos, isto é, com respeito e temor. Pois o nosso Deus é um fogo devorador.
Perseverem no amor fraterno. Não se esqueçam da hospitalidade, pois algumas
pessoas, graças a ela, sem saber acolheram anjos. Lembrem-se dos presos, como
se vocês estivessem na prisão com eles. Lembrem-se dos que são torturados, pois
vocês também têm um corpo. Que todos respeitem o matrimônio e não desonrem o
leito nupcial, pois Deus julgará os libertinos e adúlteros. Que a conduta de
vocês não seja inspirada pelo amor ao dinheiro. Cada um fique satisfeito com o
que tem, pois Deus disse: «Eu nunca deixarei você, nunca o abandonarei.» Assim,
podemos dizer com ânimo: «O Senhor está comigo, eu não temo. O que é que me
poderá fazer um homem?» Lembrem-se dos dirigentes, que ensinaram a vocês a
Palavra de Deus. Imitem a fé que eles tinham, tendo presente como eles
morreram. Jesus Cristo é o mesmo, ontem e hoje, e será sempre o mesmo.
Aleluia!
Aleluia, aleluia, aleluia!
O
Senhor reina, ele está revestido de majestade, vestiu-se o Senhor de
fortaleza e cingiu-se dela.
Aleluia, aleluia, aleluia!
Aleluia, aleluia, aleluia!
Porque
firmou a terra e ela não será abalada.
Aleluia, aleluia, aleluia!
Aleluia, aleluia, aleluia!
Evangelho: Jo 11, 1-45
Evangelho
de Nosso Senhor Jesus Cristo, segundo o Evangelista São João:
Naquele tempo, um tal de Lázaro tinha caído de
cama. Ele era natural de Betânia, o povoado de Maria e de sua irmã Marta. Maria
era aquela que tinha ungido o Senhor com perfume, e que tinha enxugado os pés
dele com os cabelos. Lázaro, que estava doente, era irmão dela. Então as irmãs
mandaram a Jesus um recado que dizia: «Senhor, aquele a quem amas está doente.»
Ouvindo o recado, Jesus disse: «Essa doença não é para a morte, mas para a
glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por meio dela.» Jesus
amava Marta, a irmã dela e Lázaro. Quando ouviu que ele estava doente, ficou
ainda dois dias no lugar onde estava. Só então disse aos discípulos: «Vamos
outra vez à Judéia.» Os discípulos contestaram: «Mestre, agora há pouco os
judeus queriam te apedrejar, e vais de novo para lá?» Jesus respondeu: «Não são
doze as horas do dia? Se alguém caminha de dia, não tropeça, porque vê a luz
deste mundo. Mas se alguém caminha de noite, tropeça, porque nele não há luz.»
Disse isso e acrescentou: «O nosso amigo Lázaro adormeceu. Eu vou acordá-lo.»
Os discípulos disseram: «Senhor, se ele está dormindo, vai se salvar.» Jesus se
referia à morte de Lázaro, mas os discípulos pensaram que ele estivesse falando
de sono natural. Então Jesus falou claramente para eles: «Lázaro está morto. E
eu me alegro por não termos estado lá, para que vocês acreditem. Agora, vamos
para a casa dele.» Então Tomé, chamado Gêmeo, disse aos companheiros: «Vamos
nós também para morrermos com ele». Quando Jesus chegou, já fazia quatro dias
que Lázaro estava no túmulo. Betânia ficava perto de Jerusalém; uns três
quilômetros apenas. Muitos judeus tinham ido à casa de Marta e Maria para as
consolar por causa do irmão. Quando Marta ouviu que Jesus estava chegando, foi
ao encontro dele. Maria, porém, ficou sentada em casa. Então Marta disse a
Jesus: «Senhor, se estivesses aqui, meu irmão não teria morrido. Mas ainda
agora eu sei: tudo o que pedires a Deus, ele te dará.» Jesus disse: «Seu irmão
vai ressuscitar.» Marta disse: «Eu sei que ele vai ressuscitar na ressurreição,
no último dia.» Jesus disse: «Eu sou a ressurreição e a vida. Quem acredita em
mim, mesmo que morra, viverá. E todo aquele que vive e acredita em mim, não
morrerá para sempre. Você acredita nisso?» Ela respondeu: «Sim, Senhor. Eu
acredito que tu és o Messias, o Filho de Deus que devia vir a este mundo.» Dito
isso, Marta foi chamar sua irmã Maria. Falou com ela em voz baixa: «O Mestre
está aí, e está chamando você». Quando Maria ouviu isso, levantou-se depressa e
foi ao encontro de Jesus. Jesus ainda não tinha entrado no povoado, mas estava
no mesmo lugar onde Marta o havia encontrado. Os judeus estavam com Maria na
casa e a procuravam consolar. Quando viram Maria levantar-se depressa e sair,
foram atrás dela, pensando que ela iria ao túmulo para aí chorar. Então Maria
foi para o lugar onde estava Jesus. Vendo-o, ajoelhou-se a seus pés e disse:
«Senhor, se estivesses aqui, meu irmão não teria morrido.» Jesus viu que Maria
e os judeus que iam com ela estavam chorando. Então ele se conteve e ficou
comovido. E disse: «Onde vocês colocaram Lázaro?» Disseram: «Senhor, vem e vê.»
Jesus começou a chorar. Então os judeus disseram: «Vejam como ele o amava!»
Alguns deles, porém, comentaram: «Um que abriu os olhos do cego, não poderia
ter impedido que esse homem morresse?» Jesus, contendo-se de novo, chegou ao
túmulo. Era uma gruta, fechada com uma pedra. Jesus falou: «Tirem a pedra.»
Marta, irmã do falecido, disse: «Senhor, já está cheirando mal. Faz quatro
dias.» Jesus disse: «Eu não lhe disse que, se você acreditar, verá a glória de
Deus?» Então tiraram a pedra. Jesus levantou os olhos para o alto e disse:
«Pai, eu te dou graças porque me ouviste. Eu sei que sempre me ouves. Mas eu
falo por causa das pessoas que me rodeiam, para que acreditem que tu me
enviaste.» Dizendo isso, gritou bem forte: «Lázaro, saia para fora!» O morto
saiu. Tinha os braços e as pernas amarrados com panos e o rosto coberto com um
sudário. Jesus disse aos presentes: «Desamarrem e deixem que ele ande.» Então
muitos judeus, que tinham ido à casa de Maria e que viram o que Jesus fez,
acreditaram nele.
Hirmos:
Vinde, povos! Honremos com hinos à puríssima
Mãe de Deus, que concebeu em seu
seio o fogo divino e não foi queimada; e glorifiquemo-la com louvores que não
esmorecem.
OBS.: Em vez de "Vimos a
verdadeira luz ..." canta-se o Tropário do dia..
Sinaxe
Pe. Paulo A. Tamanini
«Sábado de Lázaro: O Prelúdio da Cruz»
«Tendo
completado o percurso dos 40 dias...
nós suplicamos ver a Semana Santa da tua paixão».
nós suplicamos ver a Semana Santa da tua paixão».
Com essas palavras, cantadas nas vésperas da
sexta-feira de Ramos, é que termina a quaresma, e que entramos na comemoração
anual dos sofrimentos de Cristo, de sua morte e de sua ressurreição. Ela começa
no sábado de Lázaro. A festa da ressurreição de Lázaro, somada à da entrada do
Senhor em Jerusalém, é chamada nos textos litúrgicos: «Prelúdio da Cruz». É
portanto no contexto da grande semana que o significado desta festa dupla fica
mais claro. O tropário comum à esses dois dias nos diz:
-
«Ressuscitando Lázaro, o Cristo confirmou a verdade da Ressurreição
Universal».
Aqueles que estão familiarizados com a liturgia
ortodoxa, conhecem o caráter singular e paradoxal dos ofícios desse sábado de
Lázaro. Esse sábado é celebrado como um domingo, quer dizer que se celebra aí o
ofício da Ressurreição quando, normalmente, o sábado é consagrado à comemoração
dos defuntos. A alegria que ressoa no ofício sublinha o tema principal: a
vitória próxima de Cristo sobre o Hades. Na Bíblia, o Hades significa a morte e
seu poder universal, a noite inevitável e a destruição que traga toda a vida,
envenenando com suas trevas devastadoras o mundo inteiro. Mas eis que, pela
ressurreição de Lázaro, «a morte começa a tremer»; é o começo de um duelo
decisivo entre a vida e a morte, um duelo que nos dá a chave de todo o mistério
litúrgico da Páscoa. Para a Igreja primitiva, o sábado de Lázaro era, o
«anúncio da Páscoa»; de fato, esse sábado proclama e já faz aparecer a
maravilhosa luz e a paz do sábado seguinte: o grande e santo Sábado, o dia do
túmulo vivificante que dá a vida.
Compreendemos logo que Lázaro, «o amigo de Jesus»,
personifica cada um de nós e toda a humanidade, e que Betânia, «a casa» do
homem Lázaro, é o símbolo de todo o universo, habitat do homem. Todo homem foi
criado amigo de Deus e chamado a esta amizade divina que consiste no
conhecimento de Deus, na comunhão com ele, o compartilhar da mesma vida: «A
vida estava nele, e a vida era a luz dos homens» (Jo 1:4). E, portanto este
amigo bem amado de Deus, criado por amor, ei-lo destruído, aniquilado por um
poder que Deus não criou: a morte. Deus é afrontado em sua obra por um poder
que a destrói e torna nulo seu desígnio. A criação é apenas tristeza,
lamentação, lágrimas e finalmente morte. Como é possível? Essas questões se
encontram latentes no texto detalhado que João nos faz da vinda de Jesus à
tumba de seu amigo. «Uma vez chegado à tumba de seu amigo», diz o evangelista,
«Jesus chorou» (Jo 11:35). Por que ele chora, uma vez que ele sabe que dentro
de um instante ele ressuscitará Lázaro à vida?
Os hinógrafos bizantinos não souberam compreender o
sentido verdadeiro dessas lágrimas, atribuindo-as à sua natureza humana, uma
vez que, de sua natureza divina ele detinha o poder de ressuscitar os mortos.
Entretanto, a Igreja ortodoxa ensina claramente que todas as ações de Cristo
são teândricas, isto é, ao mesmo tempo divinas e humanas, sendo as ações do
único e mesmo Deus-Homem, o Filho de Deus encarnado. É o Homem-Deus que vemos
chorar, é o Homem-Deus que fará sair Lázaro de seu túmulo. Ele chora.... são
lágrimas divinas; ele chora porque contempla o triunfo da morte e da destruição
da criação saída das mãos de Deus. «Ele já cheira mal», dizem os judeus, como
para impedir Jesus de se aproximar do corpo; terrível advertência que vale para
todo o universo, para toda a Vida. Deus é Vida e Doador de Vida, ele chamou o
homem para esta realidade divina da vida, e eis "que ele cheira mal."
O mundo foi criado para refletir e proclamar a glória de Deus, e eis «que ele
cheira mal»! No túmulo de Lázaro Deus encontra a morte, a realidade da
antivida, da destruição e do desespero. Ele se encontra face à face com seu
Inimigo que lhe arrebatou a criação, que era sua, para tornar-se o Príncipe.
Nós que seguimos Jesus se aproximando do túmulo, entramos com ele na sua Hora,
aquela que ele anunciou freqüentemente como o apogeu e o cumprimento de toda
sua obra. Neste curto versículo do Evangelho: «Jesus chorou», é a Cruz que é
anunciada, sua necessidade e seu significado universal. Compreendemos agora que
é porque «Jesus chorou», melhor dizendo porque ele amava seu amigo Lázaro, que
ele tem o poder de o chamar à vida. A ressurreição não é a simples manifestação
de um poder divino, mas antes o poder de um amor, o amor tornado poder. Deus é
Amor e Amor é Vida, ele é criador de vida... É o Amor que chora sobre o túmulo
e é o Amor também que dá a vida; lá está o sentido das lágrimas divinas de
Jesus. Elas nos mostram o amor de novo à obra, recriando, resgatando e
restaurando a vida humana presa das trevas: "Lázaro, sai para fora!...»
Eis porque esse sábado de Lázaro inaugura ao mesmo
tempo a cruz como supremo sacrifício de Amor, e a ressurreição como seu último
triunfo:
«O Cristo é
para todos alegria, verdade, luz e vida, Ele é a ressurreição do
mundo, n'Ele o amor apareceu para aqueles que estão na terra, imagem da
ressurreição, concedendo a todos o perdão divino».
(Kondakion do Sábado de Lázaro)
FONTE:
Alexandre
Schmémann, Olivier Clément. «O Mistério Pascal» - Comentários Litúrgicos
Extraído
do site ecclesia.com.br
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