«A Grande e Santa Sexta-feira»
Memória dos Santos Jasom e Sosípatro, apóstolos [dos 70] (†séc.
I);
e São Basílio, Bispo de Ostrog († séc. XVI).
e São Basílio, Bispo de Ostrog († séc. XVI).
O
tema da noite da Sexta-feira Santa é a descida de Cristo ao Hades, durante a
qual o Evangelho do arrependimento e da reconciliação com Deus é compartilhado
com todos aqueles que morreram antes da salvação do Cristo encarnado. O ofício
se inicia com o lamento cantado enquanto o povo se põe perante a tumba de
Cristo, recordando Sua punição injusta e o derramamento de Seu sangue inocente.
Porém o ofício termina com um lampejo de alegria e esperança, com a leitura do
livro do Profeta Ezequiel, no qual ele descreve sua visão de nossa ressurreição
vindoura; no meio do desespero, ele nos diz que há esperança, pois nem mesmo a
morte pode nos separar do amor incessante e do poder de Deus. A morte será
vencida e a fidelidade recompensada.
Neste dia não se celebra a Divina
Liturgia em sinal de luto pela morte e sepultamento do Jesus. A Igreja nos
recorda a traição de Judas, a agonia no Monte das Oliveiras, a condenação de
Jesus; a sua Crucifixão e o seu Sepultamento na espera da Ressurreição ao
Terceiro Dia. Estas recordações estão distribuídas nos vários ofícios da
Sexta-feira Santa, que são:
1. Ofício da Paixão;
2. As Grandes Horas;
3. Ofício de Vésperas;
4. Ofício do Enterro de Cristo. (ofício noturno no
qual as Lamentações são cantadas no túmulo do Senhor e o santo epitaphios -
sudário - é transportado em procissão e venerado por nós).
1 -
Ofício da Paixão:
Na Sexta-feira, o Ofício da Paixão é a liturgia
de Matinas para a Grande e Santa Sexta-feira. Durante esse serviço, o relato da
Paixão e Morte de Nosso Senhor é lido integralmente, de forma solene, e a santa
Cruz é trazida para nossa veneração. Neste Ofício, que constitui o Orthros e se
reza na quinta-feira à noite, lêem-se os Doze Evangelhos da Paixão e se representa
a Crucifixão de Cristo, cantando-se o hino:
Hino:
Hoje
foi pendurado no madeiro Aquele que pendurou a terra sobre as
águas. (3 vezes)
Uma
coroa de espinhos foi colocada sobre a cabeça do Rei dos Anjos.
Aquele que revestiu o céu com as nuvens foi revestido de falsa púrpura.
Aquele que libertou Adão, no Jordão, recebeu uma bofetada.
O Esposo da Igreja foi pregado com cravos e o Filho da Virgem teve o lado aberto com uma lança.
Aquele que revestiu o céu com as nuvens foi revestido de falsa púrpura.
Aquele que libertou Adão, no Jordão, recebeu uma bofetada.
O Esposo da Igreja foi pregado com cravos e o Filho da Virgem teve o lado aberto com uma lança.
Adoramos
tua Paixão, ó Cristo. (3 vezes)
Mostra-nos pois, a tua Ressurreição gloriosa.
Mostra-nos pois, a tua Ressurreição gloriosa.
2 - As Grande Horas
Que substituem as Horas comuns do breviário:
Prima, Terça, Sexta e Nona.
3
– Ofício das Vésperas:
No qual se faz, simbolicamente, o
embalsamamento e o sepultamento do Salvador.
4
– Ofício do Sepultamento de Cristo:
Realizado na noite, no qual se cantam os
encômios. Neste dia não se celebra a Divina Liturgia em sinal de luto pelo
Cristo Morto e Sepultado.
Leituras
Bíblicas:
Matinas:
Os 12 Evangelhos da Paixão:
† Jo 13,31-18,1
† Jo 18,1-28
† Mt 26,57-75
† Jo 18,28-19,16
† Mt 27,3-32
† Mc 15,16-32
† Mt 27,33-54
† Lc 23,32-49
† Jo 19,25-37
† Mc 15,43-47
† Jo 19,38-42
† Mt 27,62-66
1ª Hora:
• Zc 11,10-13
• Gl 6,14-18
† Mt 27,1-56
3ª Hora:
• Is 50,4-11
• Rm 5,6-11
† Mc 15,16-41
6ª Hora:
• Is 52,13-54,1
• Am 8,9-12
• Hb 2,11-18
† Lc 23,32-49
9ª Hora:
• Jr 11,18-12,5; 9,11,14-15
• Hb 10,19-31
† Jo 18,28-19,37
Vésperas:
• Ex 33:11-23
• Jó 42:12-17 LXX
• Is 52:13-54:1
• 1Cor 1:18-2:2
† Mt 27,1-38;
† Lc 23,39-43;
† Mt 27,39-54;
† Jo 19,31-37;
† Mt 27,55-61
Sinaxe
Pe. Paulo A. Tamanini
«A Grande Sexta-Feira Santa»
Na luz da grande Quinta-feira passamos às trevas da
Sexta-feira, o dia da Paixão do Cristo, de sua morte e de sua sepultura. A
Igreja primitiva chamava a este dia "A Páscoa da Cruz," porque ele é
de fato o começo desta Páscoa ou Passagem cujo sentido nos será revelado
progressivamente; primeiro na paz do grande e santo Sabbat, depois na alegria
do dia da Ressurreição.
Mas antes, as trevas. Se ao menos pudéssemos realizar
que as trevas da Sexta-feira Santa não são puramente simbólicas e
comemorativas! É muito freqüentemente com o sentimento de nossa própria justiça
e de nossa própria integridade que contemplamos a tristeza solene destes
ofícios. Há dois mil anos, sim, homens "maus" mataram o Cristo, mas
hoje nós "o bom povo cristão" levantamos suntuosos túmulos em nossas
igrejas; não é esta a prova da nossa justiça? E no entanto, a Sexta-feira Santa
não concerne somente ao passado. É o dia do Pecado, o dia do Mal, o dia no qual
a Igreja nos ensina a aprender a terrível realidade do pecado e seu poder no
mundo. Pois o pecado e o mal não desapareceram: ao contrário, permanecem a lei
fundamental do mundo e de nossa vida. Nós que nos dizemos cristãos não entramos
freqüentemente nesta lógica do mal que conduziu o Sinédrio e Pilatos, os
soldados romanos e toda a multidão a detestar, torturar e matar o Cristo? De
que lado nós teríamos ficado se tivéssemos vivido em Jerusalém no tempo de
Pilatos? Esta é a pergunta que nos é feita por cada uma das palavras do ofício
de Sexta-feira Santa. É de fato "o dia deste mundo," de sua
condenação real e não somente simbólica, e do julgamento real e não somente
ritual, de nossa vida. . . É a revelação da verdadeira natureza do mundo que
preferiu então e continua a preferir as trevas à luz, o pecado ao bem, a morte
à vida. E condenando o Cristo à morte "este mundo" condenou-se a si
mesmo à morte, e na medida em que aceitamos seu espírito, seu pecado e sua
traição a Deus, estamos também condenados.
Este é o primeiro significado, terrivelmente realista,
da Sexta-feira Santa: uma condenação à morte...
No entanto, este dia do Mal cuja manifestação e
triunfo estão em seu paroxismo, é também o dia da Redenção. A morte do Cristo
nos é revelada como uma morte salvífica para nós e para nossa salvação. Ela é
uma morte salvífica porque é o supremo e perfeito sacrifício. O Cristo dá sua
morte a seu Pai e no-la dá também. Ele a dá a seu Pai porque não há outro meio
de destruí-la e libertar os homens dela; ora, é a vontade do Pai que os homens
sejam salvos da morte. O Cristo nos dá sua morte porque na verdade é em nosso
lugar que Ele morre. A morte é o fruto natural do pecado, um castigo iminente.
O homem escolheu não mais estar em comunhão com Deus, porém como ele não tem a
vida nele mesmo e por ele mesmo, morre. Em Jesus Cristo, entretanto, não há
pecado, logo não há morte. É somente por amor a nós que ele aceita morrer; Ele
quer assumir e compartilhar de nossa condição humana até o fim. Ele aceita o
castigo de nossa natureza, exatamente como assumiu o fardo inerente à natureza
humana. Ele morre porque se identifica verdadeiramente conosco, tomou sobre si
a tragédia da vida do homem. Sua morte é então a revelação suprema de sua
compaixão e de seu amor. E porque sua morte é amor, compaixão e co-sofrimento,
nela a própria natureza da morte foi mudada. Ela não é mais um castigo, mas um
esplendoroso ato de amor e de perdão, o termo de toda ausência de comunhão e de
toda solidão. A condenação é transformada em perdão.
Enfim, a morte do Cristo é uma morte salvífica porque
destrói a própria fonte da morte: o mal. Aceitando-a por amor, entregando-se a
seus carrascos e permitindo-lhes uma vitória aparente, o Cristo manifesta que
em realidade esta vitória é a derrota decisiva e total do mal. Com efeito, para
ser vitorioso, o pecado deve aniquilar o bem, deve provar que ele é toda a
realidade da vida, arruinar o bem e, numa palavra, mostrar sua própria
superioridade; mas ao longo de sua Paixão, é o Cristo e somente ele que
triunfa. O mal nada pode contra ele pois que não pode levar o Cristo a aceitar
o mal como verdade. A hipocrisia se revela hipocrisia, o assassinato,
assassinato, e o medo, medo. E enquanto o Cristo avança silenciosamente para a
Cruz e para seu fim, quando a tragédia humana está em seu apogeu, seu triunfo,
sua vitória sobre o mal e sua glorificação aparecem progressivamente em luz
plena. A cada passo esta vitória é reconhecida, confessada, proclamada: pela
mulher de Pilatos, por José, pelo bom ladrão, pelo centurião. Quando ele morre
na cruz, tendo aceito o supremo horror da morte, a solidão absoluta (Meu Deus,
meu Deus, por que me abandonaste?)" não resta senão confessar:
"Verdadeiramente este homem era o filho de Deus!" Assim esta morte,
este amor e esta obediência, esta plenitude de vida destroem aquilo que faz da
morte o destino universal. "E os túmulos foram abertos" (Mt. 27:52).
Já aparecem os primeiros clarões da Ressurreição...
Este é o duplo mistério desta grande Sexta-feira; os
ofícios deste dia no-lo mostram e nos fazem participar dele. De um lado, eles
insistem constantemente sobre a Paixão do Cristo enquanto pecado de todos os
pecados, crime de todos os crimes. Nas matinas, as doze leituras do relato da
Paixão nos fazem seguir passo a passo o Cristo em seus sofrimentos; nas Horas
(que substituem a divina Liturgia, pois a interdição de celebrar a Eucaristia
neste dia significa que o sacramento da presença do Cristo não pertence "à
esta criação" de pecado e de trevas, mas que ele é o sacramento do
"mundo que há de vir"); na véspera, enfim, o ofício da descida da
Cruz, as leituras e os hinos estão cheios de solenes acusações contra aqueles
que voluntária e livremente decidiram matar o Cristo justificando seu crime em
nome de sua religião, de sua lealdade política, de suas considerações práticas
e de sua obediência profissional.
Por outro lado, encontramos desde o começo do ofício o
segundo aspecto do mistério deste dia: o do sacrifício de amor que prepara a
vitória final. Desde a primeira leitura do Evangelho, onde ressoa a advertência
solene do Cristo: "Agora o Filho do Homem foi glorificado e Deus foi
glorificado nele," até aos Stycherons do final da Véspera, a luz se faz
cada vez mais viva e, ao mesmo tempo, crescem a esperança e a certeza de que a
morte será vencida pela morte: "'Ó tu, Redentor de todos, quando foste
colocado num túmulo novo para todos os homens, o Hades que não respeita
ninguém, te viu e tremeu de medo. As trancas foram quebradas, as portas se
abriram, os mortos levantaram-se. Então Adão, exultante de reconhecimento,
gritou a Ti: "Glória à tua condescendência, ó tu misericordioso!"
E quando no final da Véspera, a imagem do Cristo no
túmulo é colocada no centro da igreja, quando este longo dia chega a seu fim,
sabemos que a longa história da salvação e da redenção chega também a seu fim.
O sétimo dia, o do repouso, o Sabbat abençoado desponta e, com ele, a revelação
do túmulo que dá vida...
FONTE:
Alexandre
Schmémann, Olivier Clément. «O Mistério Pascal - Comentários Litúrgicos»
Extraído
do site ecclesia.com.br
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