«Grande e Santa Quarta-Feira»
Memória de São Simeão, apóstolo [dos 70],
parente do Senhor, bispo de Jerusalém, mártir († 107).
Nesta
quarta-feira, a Igreja dá-nos o exemplo da adúltera que, uma vez tendo se
encontrado com o Senhor, percebeu a gravidade de seus pecados, caiu perante Ele
e lavou os Seus pés com lágrimas e preciosos perfumes. Os hinos desta manhã
exortam-nos a imitar a mulher pecadora confessando nossos pecados e nos
afastando deles. Santa Unção em recordação desse tremendo ato de amor trazido
por aquela que estava em pecado, a Igreja traz-nos nesta noite os santos óleos,
e celebra o Sacramento da Unção para a saúde do corpo, da mente e do espírito.
As
cerimônias do dia são:
1. Ofício do «Orthros» que se reza na
Quarta-feira à noite;
2. Bênção do óleo com o qual os
sacerdotes ungem a fronte dos que vão comungar após terem confessado seus
pecados;
3. Bênção do santo óleo do Crisma. usado
na administração do Sacramento da Santa Unção Crismal. Este ofício é reservado
ao Patriarca;
4. Ofício de Vésperas e Liturgia de São
Basílio;
5. Depois da Divina Liturgia, nas
igrejas catedrais, cerimônia do lava-pés na qual o bispo lava os pés de 12
sacerdotes, como o Senhor lavou os pés de seus discípulos (Evangelho Lava-pés:
Jo 13, 1-11 (antes); e Jo 13, 12-17 (após);
6. Ofício da Paixão, considerado como
Orthros de Sexta-feira Santa e que é realizado, portanto, à noite.
À noite, Orthros com a leitura dos Doze Evangelhos da Paixão:
1.Jo 13, 31-18,1
2.Jo 18, 1-28
3.Mt 26, 57-75
4.Jo 18, 28 - 19,16
5.Mt 27, 3 -32
6.Mc 15, 16-32
7.Mt 27, 33-54
8.Lc 23, 32-49
9.Jo 19, 25-37
10. Mc
15, 43-47
11. Jo
19, 38-42
12. Mt
27, 62-66
Hora prima
Livro de Jeremias. Jr 11,18-12-5, 9-11, 14-15
E o Senhor me fez saber, e assim o soube; então
me fizeste ver as suas ações. E eu era como um cordeiro, como um boi que levam
à matança; porque não sabia que maquinavam propósitos contra mim, dizendo:
Destruamos a árvore com o seu fruto, e cortemo-lo da terra dos viventes, e não haja
mais memória do seu nome. Mas, ó Senhor dos Exércitos, justo Juiz, que provas
os rins e o coração, veja eu a tua vingança sobre eles; pois a ti descobri a
minha causa. Portanto, assim diz o Senhor acerca dos homens de Anatote, que
buscam a tua vida, dizendo: Não profetizes no nome do Senhor, para que não
morras às nossas mãos. Portanto, assim diz o Senhor dos Exércitos: Eis que eu
os castigarei; os jovens morrerão à espada, os seus filhos e suas filhas
morrerão de fome. E não haverá deles um remanescente, porque farei vir o mal
sobre os homens de Anatote, no ano da sua visitação. Justo serias, ó SENHOR,
ainda que eu entrasse contigo num pleito; contudo falarei contigo dos teus
juízos. Por que prospera o caminho dos ímpios, e vivem em paz todos os que procedem
aleivosamente? Plantaste-os, e eles se arraigaram; crescem, dão também fruto;
chegado estás à sua boca, porém longe dos seus rins. Mas tu, ó Senhor, me
conheces, tu me vês, e provas o meu coração para contigo; arranca-os como as
ovelhas para o matadouro, e dedica-os para o dia da matança. Até quando
lamentará a terra, e se secará a erva de todo o campo? Pela maldade dos que
habitam nela, perecem os animais e as aves; porquanto dizem: Ele não verá o
nosso fim. Se te fatigas correndo com homens que vão a pé, como poderás
competir com os cavalos? Se tão-somente numa terra de paz estás confiado, como
farás na enchente do Jordão? A minha herança é para mim ave de rapina de várias
cores. Andam as aves de rapina contra ela em redor. Vinde, pois, ajuntai todos os
animais do campo, trazei-os para a devorarem. Muitos pastores destruíram a
minha vinha, pisaram o meu campo; tornaram em desolado deserto o meu campo
desejado. Em desolação a puseram, e clama a mim na sua desolação; e toda a
terra está desolada, porquanto não há ninguém que tome isso a sério. Assim diz
o Senhor, acerca de todos os meus maus vizinhos, que tocam a minha herança, que
fiz herdar ao meu povo Israel: Eis que os arrancarei da sua terra, e a casa de
Judá arrancarei do meio deles. E será que, depois de os haver arrancado,
tornarei, e me compadecerei deles, e os farei voltar cada um à sua herança, e
cada um à sua terra.
Vésperas
Primeira Leitura: Livro do Êxodo: Ex 19,10-19
E Vai ter com o povo,
e santifica-o hoje e amanhã. Que lavem as suas vestes e estejam prontos para o
terceiro dia, porque, depois de amanhã, o Senhor descerá à vista de todo o povo
sobre o monte Sinai. Fixarás ao redor limites ao povo, e dir-lhe-ás:
guardai-vos de subir o monte ou de tocar a sua base! Se alguém tocar o monte,
será morto. Não se lhe tocará com a mão, mas ele será apedrejado ou perecerá
pelas flechas: homem ou animal, não ficará vivo. Quando soar a trombeta,
{somente então} subirão eles ao monte». Moisés desceu do monte para junto do
povo e o santificou; e lavaram as suas vestes. Em seguida, disse-lhes: «Estai
prontos para depois de amanhã, não vos aproximeis de mulher alguma». Na manhã
do terceiro dia, houve um estrondo de trovões e de relâmpagos; uma espessa
nuvem cobria a montanha e o som da trombeta soou com força. Toda a multidão que
estava no acampamento tremia. Moisés levou o povo para fora do acampamento ao
encontro de Deus, e pararam ao pé do monte. Todo o monte Sinai fumegava, porque
o Senhor tinha descido sobre ele no meio de chamas; o fumo que subia do monte
era como a fumaça de uma fornalha, e toda a montanha tremia com violência. O
som da trombeta soava ainda mais forte; Moisés falava e os trovões divinos
respondiam-lhe.
Segunda Leitura: Livro de Jó: Jó 38,1-23; 42,1-5
Então, do seio da tempestade, o Senhor deu a Jó
esta resposta: Quem é aquele que obscurece assim a Providência com discursos
sem inteligência? Cinge os teus rins como um homem; vou interrogar-te e tu me
responderás. Onde estavas quando lancei os fundamentos da terra? Fala, se
estiveres informado disso. Quem lhe tomou as medidas, já que o sabes? Quem
sobre ela estendeu o cordel? Sobre que repousam suas bases? Quem colocou nela a
pedra de ângulo, sob os alegres concertos dos astros da manhã, sob as
aclamações de todos os filhos de Deus? Quem fechou com portas o mar, quando
brotou do seio maternal, quando lhe dei as nuvens por vestimenta, e o enfaixava
com névoas tenebrosas; quando lhe tracei limites, e lhe pus portas e ferrolhos,
dizendo: Chegarás até aqui, não irás mais longe; aqui se deterá o orgulho de
tuas ondas? Algum dia na vida deste ordens à manhã? Indicaste à aurora o seu
lugar, para que ela alcançasse as extremidades da terra, e dela sacudisse os
maus, para que ela tome forma como a argila de sinete e tome cor como um
vestido, para que seja recusada aos maus a sua luz, e sejam quebrados seus
braços já erguidos? Foste até as fontes do mar? Passaste até o fundo do abismo?
Apareceram-te, porventura, as portas da morte? Viste, por acaso, as portas da
tenebrosa morada? Abraçaste com o olhar a extensão da terra? Fala, se sabes
tudo isso! Qual é o caminho da morada luminosa? Onde é a residência das trevas?
Poderias alcançá-la em seu domínio, e reconhecer as veredas de sua morada?
Deverias sabê-lo, pois já tinhas nascido: são tão numerosos os teus dias!
Penetraste nos depósitos da neve? Visitaste os armazéns dos granizos, que
reservo para os tempos de tormento, para os dias de luta e de batalha? Jó
respondeu ao Senhor nestes termos: Sei que podes tudo, que nada te é muito
difícil. Quem é que obscurece assim a Providência com discursos ininteligíveis?
É por isso que falei, sem compreendê-las, maravilhas que me superam e que não
conheço. Escuta-me, deixa-me falar: vou interrogar-te, tu me responderás. Meus
ouvidos tinham escutado falar de ti, mas agora meus olhos te viram.
Livro
de Isaias: Is 50,4-11
E o Senhor Deus deu-me a língua de um discípulo
para que eu saiba reconfortar pela palavra o que está abatido. Cada manhã ele
desperta meus ouvidos para que escute como discípulo; {o Senhor Deus abriu-me o
ouvido} e eu não relutei, não me esquivei. Aos que me feriam, apresentei as
espáduas, e as faces àqueles que me arrancavam a barba; não desviei o rosto dos
ultrajes e dos escarros. Mas o Senhor Deus vem em meu auxílio: eis por que não
me senti desonrado; enrijeci meu rosto como uma pedra, convicto de não ser
desapontado. Aquele que me fará justiça aí está. Quem ousará atacar-me? Vamos
medir-nos! Quem será meu adversário? Que se apresente! O Senhor Deus vem em meu
auxílio: quem ousaria condenar-me? Cairão em frangalhos como um manto velho; a
traça os roerá. Que aqueles dentre vós que temem o Senhor ouçam a voz de seu
Servo! Que aqueles que caminham no escuro, privados de luz, confiem no nome do
Senhor e contem com o seu Deus! Mas vós, que ateais um incêndio, que preparais
projéteis inflamáveis, ide ao fogo do vosso incêndio, e dos projéteis que
fizestes arder! É minha mão que vos imporá esse tratamento: sereis prostrados
nos tormentos.
Matinas
Evangelho: Lc
22,1-39
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, segundo o Evangelista São Lucas:
Naquele tempo, aproximava-se a festa dos pães
sem fermento, chamada Páscoa. Os príncipes dos sacerdotes e os escribas
buscavam um meio de matar Jesus, mas temiam o povo. Entretanto, Satanás entrou
em Judas, que tinha por sobrenome Iscariotes, um dos Doze. Judas foi procurar
os príncipes dos sacerdotes e os oficiais para se entender com eles sobre o
modo de lho entregar. Eles se alegraram com isso, e concordaram em lhe dar
dinheiro. Também ele se obrigou. E buscava ocasião oportuna para o trair, sem
que a multidão o soubesse. Raiou o dia dos pães sem fermento, em que se devia
imolar a Páscoa. Jesus enviou Pedro e João, dizendo: Ide e preparai-nos a ceia
da Páscoa. Perguntaram-lhe eles: Onde queres que a preparemos? Ele respondeu:
Ao entrardes na cidade, encontrareis um homem carregando uma bilha de água;
segui-o até a casa em que ele entrar, e direis ao dono da casa: O Mestre
pergunta-te: Onde está a sala em que comerei a Páscoa com os meus discípulos?
Ele vos mostrará no andar superior uma grande sala mobiliada, e ali fazei os
preparativos. Foram, pois, e acharam tudo como Jesus lhes dissera; e prepararam
a Páscoa. Chegada que foi a hora, Jesus pôs-se à mesa, e com ele os apóstolos.
Disse-lhes: Tenho desejado ardentemente comer convosco esta Páscoa, antes de
sofrer. Pois vos digo: não tornarei a comê-la, até que ela se cumpra no Reino
de Deus. Pegando o cálice, deu graças e disse: Tomai este cálice e distribuí-o
entre vós. Pois vos digo: já não tornarei a beber do fruto da videira, até que
venha o Reino de Deus. Tomou em seguida o pão e depois de ter dado graças,
partiu-o e deu-lho, dizendo: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto
em memória de mim. Do mesmo modo tomou também o cálice, depois de cear,
dizendo: Este cálice é a Nova Aliança em meu sangue, que é derramado por vós...
Entretanto, eis que a mão de quem me trai está à mesa comigo. O Filho do Homem
vai, segundo o que está determinado, mas ai daquele homem por quem ele é
traído! Perguntavam então os discípulos entre si quem deles seria o que tal
haveria de fazer. Surgiu também entre eles uma discussão: qual deles seria o
maior. E Jesus disse-lhes: Os reis dos pagãos dominam como senhores, e os que
exercem sobre eles autoridade chamam-se benfeitores. Que não seja assim entre
vós; mas o que entre vós é o maior, torne-se como o último; e o que governa
seja como o servo. Pois qual é o maior: o que está sentado à mesa ou o que
serve? Não é aquele que está sentado à mesa? Todavia, eu estou no meio de vós,
como aquele que serve. E vós tendes permanecido comigo nas minhas provações;
eu, pois, disponho do Reino a vosso favor, assim como meu Pai o dispôs a meu
favor, para que comais e bebais à minha mesa no meu Reino e vos senteis em
tronos, para julgar as doze tribos de Israel. Simão, Simão, eis que Satanás vos
reclamou para vos peneirar como o trigo; mas eu roguei por ti, para que a tua
confiança não desfaleça; e tu, por tua vez, confirma os teus irmãos. Pedro
disse-lhe: Senhor, estou pronto a ir contigo tanto para a prisão como para a
morte. Jesus respondeu-lhe: Digo-te, Pedro, não cantará hoje o galo, até que
três vezes hajas negado que me conheces. Depois ajuntou: Quando vos mandei sem
bolsa, sem mochila e sem calçado, faltou-vos porventura alguma coisa? Eles
responderam: Nada. Mas agora, disse-lhes ele, aquele que tem uma bolsa, tome-a;
aquele que tem uma mochila, tome-a igualmente; e aquele que não tiver uma
espada, venda sua capa para comprar uma. Pois vos digo: é necessário que se
cumpra em mim ainda este oráculo: E foi contado entre os malfeitores {Is
53,12}. Com efeito, aquilo que me diz respeito está próximo de se cumprir. Eles
replicaram: Senhor, eis aqui duas espadas. Basta, respondeu ele. Conforme o seu
costume, Jesus saiu dali e dirigiu-se para o monte das Oliveiras, seguido dos
seus discípulos.
Divina Liturgia
Prokimenon:
Os príncipes
conspiraram contra o Senhor e contra seu Cristo
Por que se enfureceram os
gentios e meditaram os povos vãos projetos?
Epístola: 1Cor
11,23-32
Leitura da Primeira Epístola de São
Paulo aos Coríntios:
Irmãos, eu recebi do Senhor o que vos
transmiti: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão e,
depois de ter dado graças, partiu-o e disse: Isto é o meu corpo, que é entregue
por vós; fazei isto em memória de mim. Do mesmo modo, depois de haver ceado,
tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a Nova Aliança no meu sangue;
todas as vezes que o beberdes, fazei-o em memória de mim. Assim, todas as vezes
que comeis desse pão e bebeis desse cálice lembrais a morte do Senhor, até que
venha. Portanto, todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor
indignamente será culpável do corpo e do sangue do Senhor. Que cada um se
examine a si mesmo, e assim coma desse pão e beba desse cálice. Aquele que o
come e o bebe sem distinguir o corpo do Senhor, come e bebe a sua própria
condenação. Esta é a razão por que entre vós há muitos adoentados e fracos, e
muitos mortos. Se nos examinássemos a nós mesmos, não seríamos julgados. Mas,
sendo julgados pelo Senhor, ele nos castiga para não sermos condenados com o
mundo.
Aleluia:
Aleluia, aleluia, aleluia!
O Senhor reina, ele está
revestido de majestade, vestiu-se o Senhor de fortaleza e cingiu-se
dela.
Aleluia, aleluia, aleluia!
Porque firmou a terra e ela
não será abalada.
Aleluia, aleluia, aleluia!
Evangelho chamado da« Nova
Aliança». Trechos tirados de Mateus, João e Lucas:
Evangelho: Mt 26,1b-20; Jo 13,3-17; Mt
26,21-39; Lc 22,43-45; Mt 26,40-27,2
Evangelho
de Nosso Senhor Jesus Cristo, segundo os Evangelistas São Mateus,
São Marcos, São Lucas e São João.
Naquele tempo, disse o Senhor aos seus
discípulos: "Sabeis que dentro de dois dias será a Festa da Páscoa, e o
Filho do homem será entregue para ser crucificado". Nessa ocasião, os
sumos sacerdotes e os anciãos do povo reuniram-se no palácio do Sumo Sacerdote,
chamado Caifás, e resolveram prender Jesus à traição, para o matar. Diziam, no
entanto: "Não seja durante a festa, para não haver tumulto entre o
povo". Quando Jesus estava em Betânia, na casa de Simão, o leproso, uma
mulher chegou perto dele com um vaso feito de alabastro, cheio de precioso
perfume e derramou-lhe sobre a cabeça enquanto ele estava à mesa: Vendo isso,
os discípulos disseram indignados: "Para que tanto desperdício? Este
perfume poderia ser vendido por um bom preço, e o dinheiro distribuído aos
pobres. Ao ouvir isso, Jesus lhes disse: "Por que incomodais esta mulher?
Ela me fez uma boa ação. Porque pobres sempre os tendes convosco, a mim, porém,
nem sempre me tendes. Ao derramar este perfume no meu corpo, ela me ungiu para
a sepultura. Eu vos garanto que, em qualquer parte do mundo onde este
evangelho for anunciado, será também contado, em sua memória, que ela
fez". Então um dos Doze, chamado Judas. Iscariotes, foi falar com os sumos
sacerdotes e lhes disse: "Quanto quereis dar-me, se eu vos entregar
Jesus?'' Eles decidiram dar-lhe trinta moedas de prata. E a partir de então,
procurava uma ocasião oportuna para entregá-lo. No primeiro dia da Festa dos
Pães sem Fermento, os discípulos se aproximaram de Jesus e perguntaram:
"Onde queres que te preparemos a Ceia da Páscoa?" Ele respondeu:
"Ide à cidade, à casa de certo homem, e dizei-lhe: O Mestre mandou dizer:
O meu tempo está próximo; quero celebrar em tua casa a Páscoa com os meus
discípulos". Os discípulos fizeram como Jesus lhes tinha mandado e
prepararam a Ceia da Páscoa. Chegada à tarde, ele se pôs à mesa com os Doze.
Jesus sabia que o Pai lhe tinha colocado todas as coisas nas mãos, sabia que
tinha saído de Deus e para Deus voltava. Levantou-se então da mesa, tirou o
manto, tomou uma toalha e amarrou-a na cintura. Depois, derramou água numa
bacia e começou a lavar os pés dos discípulos e a enxugá-los com a toalha da
cintura; ao chegar a Simão Pedro, este lhe disse: “Senhor, Tu me lavas os pés?”
Jesus respondeu-lhe: “O que estou fazendo não entendes agora. Mais tarde
compreenderás” “Jamais me lavarás os pés, disse Pedro”. Jesus respondeu:
"Se não te lavar os pés, não terás parte comigo". Simão Pedro disse:
"Então, Senhor, não só os pés mas também as mãos e a cabeça''. Jesus lhe
disse: "Quem se banhou precisa lavar só os pés, pois está todo limpo. Vós
estais limpos, mas nem todos". Jesus sabia quem havia de
entregá-lo. Por isso disse: "Nem todos estais
limpos". Depois de lavar-lhes os pés, vestiu o manto, pôs-se de novo à
mesa e perguntou-lhes: "Sabeis o que vos fiz? Vós me chamais Mestre e
Senhor, e dizeis bem, porque o sou. Se pois eu, Mestre e Senhor, vos lavei os
pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Dei-vos o exemplo para que
façais o mesmo que eu vos fiz. Na verdade, eu vos digo que o escravo não é
maior do que o seu senhor, nem o mensageiro maior do que aquele que o enviou.
Se compreenderdes isto e o praticardes, sereis felizes. E, enquanto comiam,
disse-lhes: "Eu vos garanto que um de vós me entregará". Muito
tristes, começaram a dizer um por um: "Por acaso sou eu, Senhor?" Ele
respondeu: "Quem põe comigo a mão no prato, esse me entregará. O Filho do
homem segue seu caminho como dele está escrito; mas ai daquele por quem o Filho
do homem for traído. Melhor seria para esse homem não ter nascido". Então
Judas, que ia entregá-lo, perguntou: "Por acaso sou eu, Mestre?" E
ele respondeu: "Tu o disseste". Enquanto comiam, Jesus tomou um pão e
pronunciou a bênção. Depois, partiu o pão e o deu aos discípulos, dizendo:
"Tomai e comei, isto é o meu corpo". Em seguida, tomando um cálice,
depois de dar graças deu-lhes dizendo: “Bebei dele todos, pois isto
é o meu sangue, o sangue da Aliança, derramado por muitos, para o perdão dos pecados.
Digo-vos que já não beberei deste fruto da videira até o dia em que o beberei
de novo convosco no reino de meu Pai". Depois de terem cantado os salmos,
saíram para o monte das Oliveiras. Então Jesus lhes disse: "Todos vós
ficareis decepcionados comigo esta noite, porque está escrito: Ferirei o pastor
e as ovelhas do rebanho se dispersarão. Mas, depois de ressuscitar, irei à
vossa frente para a Galiléia". Pedro tomou a palavra e lhe disse:
"Ainda que todos fiquem desapontados contigo, eu jamais me decepcionarei".
Jesus lhe respondeu: "Eu te garanto que nesta mesma noite, antes que o
galo cante, já me terás negado três vezes". Pedro insistiu: "Ainda
que eu tenha de morrer contigo, não te negarei". E o mesmo diziam todos os
discípulos. Então Jesus se retirou com os discípulos para um sítio chamado
Getsêmani e lhes disse: "Sentai-vos aqui, enquanto vou ali para
orar". Levou consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, e começou a ficar
triste e angustiado. Então lhes disse: "Minha alma está triste até à
morte. Ficai aqui em vigília comigo". Adiantou-se um pouco, prostrou-se
com o rosto em terra e orava, dizendo: "Pai, se for possível, afasta de
mim este cálice, contudo não se faça como eu quero mas como tu queres".
Apareceu-lhe um anjo do céu, que o confortava. E cheio de angústia orava com
mais insistência. Seu suor tomou-se como gotas de sangue caindo por terra.
Voltou aos discípulos e os encontrou dormindo. E disse a Pedro: "Não
fostes capazes de vigiar uma hora comigo? Vigiai e orai para não cairdes em
tentação. O espírito está pronto mas a carne é fraca". Afastou-se pela
segunda vez e orou, dizendo: "Pai, se este cálice não pode passar sem que
eu dele beba, faça-se a tua vontade". E, voltando outra vez, os encontrou
adormecidos. É que eles tinham os olhos pesados de sono. Deixou-os de novo e
foi orar pela terceira vez, dizendo as mesmas palavras. Então voltou até os
discípulos e lhes disse: ''Dormi agora e descansai! Já se aproxima a hora e o
Filho do homem vai ser entregue em mãos de pecadores. Levantai-vos! Vamos! Já
se aproxima quem me vai entregar". Jesus ainda estava falando, quando
chegou Judas, um dos Doze, junto com um grande bando armado de espadas e
cassetetes enviado pelos sumos sacerdotes e anciãos do povo. O traidor lhes
tinha dado esta senha: "Aquele que eu beijar é Jesus; prendei-o". Tão
logo chegou, Judas aproximou-se de Jesus e disse: "Salve, Mestre!" E
o beijou. Jesus lhe disse: "Amigo, faze o que tens a fazer". Então
eles avançaram sobre Jesus e o prenderam. Nisso um dos que estavam com Jesus
meteu a mão na espada, puxou-a e feriu o escravo do Sumo Sacerdote decepando
lhe a orelha. Jesus, porém, lhe disse: "Põe a espada na bainha, pois quem
toma da espada, pela espada morrerá. Ou pensas que não posso pedir a meu Pai e
ele me enviaria, neste instante, mais de doze legiões de anjos? Mas; nesse
caso, como vão cumprir-se as escrituras, segundo as quais, é assim que deve
acontecer?” Naquela hora, Jesus disse à multidão: ''Saístes para prender-me
como se eu fosse um ladrão, com espadas e cassetetes? Todos os dias eu me assentava
convosco ensinando no Templo, e não me prendestes. Mas tudo isso aconteceu para
que se cumprissem as Escrituras dos Profetas". Então todos os discípulos o
abandonaram e fugiram. Os que prenderam Jesus levaram-no a Caifás, o Sumo
Sacerdote, onde os escribas e anciãos se haviam reunido. Pedro o seguiu de
longe até o pátio do Sumo Sacerdote. Entrou ali e sentou-se junto com os
guardas para ver como ia terminar. Os sumos sacerdotes e todo o Sinédrio
procuravam falsos testemunhos contra Jesus para condená-lo à morte. Mas não os
encontraram, embora muitas testemunhas falsas se tivessem apresentado.
Finalmente apresentaram-se duas testemunhas que disseram: "Este homem
falou: 'Posso destruir o Santuário de Deus e em três dias reconstruí-lo"'.
Então o Sumo Sacerdote levantou-se e perguntou: "Nada respondes ao que
estes depõem contra ti?" Jesus, porém, permanecia calado. O Sumo Sacerdote
lhe disse: "Conjuro-te pelo Deus vivo: dize-nos se tu és o Cristo, o Filho
de Deus". Jesus respondeu-lhe: ''Tu o disseste. Entretanto eu vos digo: Um
dia vereis o Filho do homem sentado à direita do Todo-poderoso, vindo sobre as
nuvens do céu". Então o Sumo Sacerdote rasgou as vestes e disse:
"Blasfemou! Que necessidade temos de mais testemunhas? Acabais de ouvir a
blasfêmia. O que vos parece?” Eles responderam: “É réu de morte”. Então,
começaram a cuspir-lhe no rosto e a dar-lhe bofetadas, e outros a lhe ferir o
rosto e diziam: “Advinha, ó Cristo, quem foi que te bateu?'" Enquanto
isso, Pedro estava sentado lá fora, no pátio. Uma criada aproximou-se dele e
disse: "Tu também estavas com Jesus, o Galileu''. Mas ele negou diante de
todos, dizendo: "Não sei o que dizes". Mas, ao sair em direção à
porta, outra criada o viu e disse aos que lá estavam: "Este homem estava
com Jesus, o Nazareno". E de novo ele negou com juramento que não conhecia
o homem. Pouco depois, os que ali estavam chegaram perto dele e disseram:
"De fato, tu também és um deles, pois teu sotaque te denuncia. Ele então
começou a rogar pragas e a jurar que não conhecia o homem. Neste instante o
galo cantou. Pedro se lembrou do que Jesus lhe dissera: "Antes que o galo
cante, me negarás três vezes". E, saindo para fora, Pedro chorou
amargamente. Chegada a manhã, todos os sumos sacerdotes e os anciãos do povo
reuniram-se em conselho contra Jesus para o condenarem à morte. Depois o
levaram amarrado e o entregaram ao governador Pôncio Pilatos.
Após o Evangelho, segue a
Liturgia de São Basílio com as seguintes alterações:
1 - Em vez do Canto dos Querubins, do
Kinonikón e do hino "Vimos a Verdadeira Luz", canta-se: "Na tua
Ceia Mística..."
2 - Em vez de
"Verdadeiramente é Digno e Justo", canta-se: "Ó Cheia de
Graça";
3 - A Bênção Final começa com:
"Que o Cristo, nosso verdadeiro Deus, que na sua grande bondade, ao lavar
os pés de seus discípulos, mostrando que a humildade é um excelente caminho e
humilhou-se a si mesmo até à crucifixão e o sepultamento para a nossa salvação,
tenha piedade de nós e salve-nos, pelas intercessões ...."
Hirmos:
O
Senhor Deus a nós se revelou; celebrai a festa e alegrai-vos
e vinde, glorifiquemos a Cristo levando palmas e ramos de oliveira e cantando-lhe hinos, dizendo:
"Bendito o que vem em nome de Senhor, nosso Salvador!"
e vinde, glorifiquemos a Cristo levando palmas e ramos de oliveira e cantando-lhe hinos, dizendo:
"Bendito o que vem em nome de Senhor, nosso Salvador!"
Kinonikon:
O
Senhor Deus a nós se revelou; Bendito o que vem em nome de Senhor!
Aleluia, aleluia, aleluia!
Aleluia, aleluia, aleluia!
Lavapés
EVANGELHO
(DURANTE)
Evangelho: Jo 13,1-11
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, segundo o Evangelista São João:
Naquele tempo, um pouco antes da festa da
Páscoa, sabendo Jesus que havia chegado o tempo em que deixaria este mundo e
iria para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim.
Estava sendo servido o jantar, e o diabo já havia induzido Judas Iscariotes,
filho de Simão, a trair Jesus. Jesus sabia que o Pai havia colocado todas as
coisas debaixo do seu poder, e que viera de Deus e estava voltando para Deus;
assim, levantou-se da mesa, tirou sua capa e colocou uma toalha em volta da
cintura. Depois disso, derramou água numa bacia e começou a lavar os pés dos
seus discípulos, enxugando-os com a toalha que estava em sua cintura. Chegou-se
a Simão Pedro, que lhe disse: "Senhor, vais lavar os meus pés?"
Respondeu Jesus: "Você não compreende agora o que estou lhe fazendo; mais
tarde, porém, entenderá". Disse Pedro: "Não; nunca lavarás os meus
pés". Jesus respondeu: "Se eu não os lavar, você não terá parte
comigo". Respondeu Simão Pedro: "Então, Senhor, não apenas os meus pés,
mas também as minhas mãos e a minha cabeça!" Respondeu Jesus: "Quem
já se banhou precisa apenas lavar os pés; todo o seu corpo está limpo. Vocês
estão limpos, mas nem todos". Pois ele sabia quem iria traí-lo, e por isso
disse que nem todos estavam limpos.
EVANGELHO
(APÓS)
Evangelho: Jo 13,12-17
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, segundo o Evangelista São João:
Quando terminou de lavar-lhes os pés, Jesus
tornou a vestir sua capa e voltou ao seu lugar. Então lhes perguntou: "Vocês
entendem o que lhes fiz? Vocês me chamam ‘Mestre’ e ‘Senhor’, e com razão, pois
eu o sou. Pois bem, se eu, sendo Senhor e Mestre de vocês, lavei-lhes os pés,
vocês também devem lavar os pés uns dos outros. Eu lhes dei o exemplo, para que
vocês façam como lhes fiz. Digo-lhes verdadeiramente que nenhum escravo é maior
do que o seu senhor, como também nenhum mensageiro é maior do que aquele que o
enviou. Agora que vocês sabem estas coisas, felizes serão se as
praticarem".
Sinaxe
Pe. Paulo A. Tamanini
«Quinta-Feira Santa»
(a Última Ceia)
Dois acontecimentos marcam a liturgia da grande e
santa Quinta-feira: a última Ceia do Cristo com seus discípulos e a traição de
Judas. Um e outro encontram seu sentido no amor. A última Ceia é a revelação
última do amor redentor de Deus pelo homem, do amor enquanto a essência mesma
da salvação. A traição de Judas, por sua vez, mostra que o pecado, a morte, a
destruição de si mesmo, provêm também do amor, mas de um amor desfigurado,
desviado daquilo que merece verdadeiramente ser amado. Tal é o mistério deste
dia único cuja liturgia, impregnada ao mesmo tempo de luz e de trevas, de
alegria e de dor, nos coloca diante de uma escolha decisiva da qual depende o
destino eterno de cada um de nós.
"Jesus, sabendo que era chegada a hora de passar
deste mundo para seu Pai, tendo amado os seus que estavam neste mundo, amou-os
até o fim. . " (Jo 13, 1). Para compreender de fato a última Ceia, é
preciso ver nela o desembocar deste grande movimento de amor divino que começou
com a criação do mundo e que, agora, irá atingir sua plenitude na morte e na
ressurreição do Cristo.
"Deus é Amor" (Jo 4,8). E o primeiro dom do
Amor foi a vida. Esta era essencialmente uma comunhão. Para viver, o homem
devia se nutrir, comer e beber, comungar o mundo. O mundo era, pois, amor
divino tornado alimento, tornado corpo do homem. Estando vivo, isto é,
comungando o mundo, o homem devia estar em comunhão com Deus, fazer de Deus a
finalidade e a substância de sua vida. Comungar o mundo recebido de Deus era, na
verdade, comungar Deus. O homem recebia seu alimento de Deus e, transformando-o
em seu corpo e sua vida, ele oferecia o mundo inteiro a Deus, ele o
transformava em vida em Deus e com Deus. O amor de Deus havia dado a vida ao
homem, o amor do homem por Deus transformava esta vida em comunhão com Deus.
Era o Paraíso. A vida ali era de fato eucarística. Pelo homem, por seu amor por
Deus, toda a criação devia ser santificada e transformada em sacramento
universal da presença divina, e o homem era o padre deste sacramento.
Mas, pelo pecado, o homem perdeu esta vida
eucarística. Ele a perdeu, porque deixou de olhar o mundo como um meio de
comunhão com Deus e sua vida como uma eucaristia, uma adoração e um louvor...
ele amou-se a si próprio e ao mundo em si mesmo; ele se fez centro e fim de sua
própria vida. Ele imaginou que a fome a sede, quer dizer, o estado de
dependência no qual se encontrava sua vida com relação ao mundo, poderiam ser
satisfeitas pelo próprio mundo, pelo alimento como tal. Mas o mundo e o alimento,
se forem despojados de seu sentido primordial de sacramentos, ou seja, meios
para comunhão com Deus, se não forem acolhidos com fome e sede de Deus; em
outras palavras, se Deus não está mais ali, o mundo e o alimento não podem mais
dar a vida, nem satisfazer fome alguma, pois eles não têm a vida em si mesmos.
Amando-os por eles mesmos, o homem desviou seu amor do único objeto de todo
amor, de toda fome, de todo desejo... e ele morreu. Porque a morte é a
inevitável "decomposição" da vida amputada de sua única fonte e
daquilo que lhe dá seu sentido.
O homem encontra a morte ali onde ele esperava
encontrar a vida. Sua vida tornou-se uma comunhão com a morte, porque em lugar
de transformar o mundo em comunhão com Deus pela fé, pelo amor e pela adoração,
ele submete-se inteiramente ao mundo; ele deixou de ser o padre para tornar-se
o escravo dele. E por este pecado do homem, o mundo inteiro tornou-se um
cemitério onde os povos, condenados à morte, comungam a morte, "plantados
nas trevas da morte" (Mt 4, 16).
O homem traiu, mas Deus permaneceu fiel ao homem. Como
nós dizemos na Liturgia de São Basílio: "Tu não rejeitaste para sempre a
criatura que afeiçoaste, Ó Deus de bondade, nem esqueceste a obra de Tuas mãos;
mas Tu a visitaste de várias maneiras na ternura de Teu coração." Uma nova
obra divina ia começar: a da redenção e da salvação. Ela se cumpriria no
Cristo, o Filho de Deus, que para dar outra vez ao homem sua beleza original e
devolver à sua vida o caráter de comunhão com Deus, se fez homem, tomou sobre
Si nossa natureza, com sua sede e sua fome, com seu desejo e amor pela vida.
Nele, a vida foi revelada, dada, aceita, cumprida como uma perfeita eucaristia,
uma total e perfeita comunhão com Deus. O Cristo rejeitou a tentação
fundamental do homem, "viver somente do pão," e revelou que é Deus e
seu Reino que são o verdadeiro alimento, a verdadeira vida do homem. E desta
perfeita vida eucarística, repleta de Deus, portanto divina e imortal, ele faz
dom a todos aqueles cuja vida encontra nele todo seu sentido e seu conteúdo.
Tal é a rica significação da última Ceia. O Cristo se oferece como alimento
verdadeiro do homem, pois a vida manifestada nele é a verdadeira vida. Assim, o
movimento de amor que começa no Paraíso com o divino "tomai e comei. . "
(porque se nutrir é a vida do homem) atinge sua plenitude com o "Tomai e
comei" do Cristo (porque Deus é a vida do homem). A última Ceia recria o
Paraíso de delícias, restaura a vida enquanto eucaristia e comunhão.
Esta hora de amor extremo é também a da mais extrema
traição. Judas deixa a luz da câmara alta para afundar-se dentro da noite.
"Era de noite" (Jo 13, 30). Por que ele parte? "Ele ama,"
responde o Evangelho, e os hinos da Quinta-feira santa sublinham diversas vezes
este amor fatal. Importa pouco, com efeito, que este amor consista no
"dinheiro." O dinheiro aqui, simboliza todo amor pervertido e
desviado que leva o homem a trair a Deus. É um amor roubado a Deus e Judas é,
pois, o "ladrão." O homem, mesmo se não é mais Deus ou em Deus que
ele ama, não cessa de amar e de desejar, pois ele foi criado para o amor, e o
amor é a sua própria natureza; mas é então uma paixão cega e auto-destrutiva e
a morte é dela o fim. A cada ano, quando nos afogamos nesta luz e nesta
profundeza insondáveis da grande Quinta-feira, a mesma questão crucial nos é
colocada: respondo ao amor do Cristo e aceito que ele se torne minha vida, ou
serei eu o Judas na Sua noite?
Os ofícios da grande Quinta-feira compreendem: as
matinas, as vésperas seguidas da Liturgia de São Basílio, o Grande. Nas igrejas
catedrais, o lava-pés tem lugar após à Liturgia; enquanto o Diácono lê o
Evangelho, o bispo lava os pés de doze padres, nos relembrando que é o amor do
Cristo que é o fundamento da vida na Igreja e que, no seio desta, está o modelo
de toda relação. É também nesta grande Quinta-feira que os santos óleos são
consagrados pelos chefes das Igrejas autocéfalas; esta cerimônia significa que
o amor novo do Cristo é o dom que recebemos do Espírito no dia de nossa entrada
na Igreja.
Nas matinas, o tropário dá o tema do dia: a oposição
entre o amor do Cristo e o desejo insaciável de Judas:
«Enquanto
que os gloriosos discípulos
estavam iluminados pela lavagem dos pés,
o ímpio Judas, enegrecido pelo amor ao dinheiro,
vendeu aos juizes indignos o justo Juiz.
"Ó Tu, amante do dinheiro,
olha aquele que se enforcou por causa dele!
Afasta-te pois deste desejo insaciável,
quem ousou realizar uma tal ação contra o Mestre.
"Mas Tu, Senhor, bom para todos, glória a Ti!»
estavam iluminados pela lavagem dos pés,
o ímpio Judas, enegrecido pelo amor ao dinheiro,
vendeu aos juizes indignos o justo Juiz.
"Ó Tu, amante do dinheiro,
olha aquele que se enforcou por causa dele!
Afasta-te pois deste desejo insaciável,
quem ousou realizar uma tal ação contra o Mestre.
"Mas Tu, Senhor, bom para todos, glória a Ti!»
Depois da leitura do Evangelho (Lc 12, 1-40), o belo
cânon de São Cosme nos introduz na contemplação do mistério da última Ceia, de
seu lado místico e eterno. O hirmos da nona ode nos convida a tomar parte no
banquete ao qual o Senhor nos convida:
«Vinde, vós
os crentes!
Alegremo-nos da hospitalidade do Senhor
no banquete da imortalidade,
na câmara alta, elevando nossos corações...»
Alegremo-nos da hospitalidade do Senhor
no banquete da imortalidade,
na câmara alta, elevando nossos corações...»
Nas vésperas, os stykeroi sublinham o outro pólo,
trágico, desta grande Quinta-feira, a traição de Judas:
«Judas, como
servidor, mostrou-se pérfido em suas obras;
como discípulo mostrou-se urdidor de conspiração;
como amigo, revelou-se demônio.
Ele acompanhava seu Mestre,
mas no seu íntimo, meditava a traição...»
como discípulo mostrou-se urdidor de conspiração;
como amigo, revelou-se demônio.
Ele acompanhava seu Mestre,
mas no seu íntimo, meditava a traição...»
Após a Entrada, faz-se três leituras do Velho
Testamento:
Êxodo
19:10-19 - A descida de Deus do monte Sinai em direção a seu povo, imagem da
vinda de Deus na Eucaristia.
Jó
38, 1-24 e 42:1-5 - Fala de Deus a Jó, e resposta deste: "Eu falei sem
compreensão de maravilhas que me ultrapassam e que eu ignoro..." — e estas
maravilhas divinas são cumpridas no dom do Corpo de Cristo e de seu Sangue.
Is
50, 4-11 - Começo das profecias do Servo sofredor.
A Epístola é tirada de São Paulo, 1Cor 11, 23-32; é o
relato da última Ceia, dando o sentido da comunhão.
A leitura do Evangelho (a mais longa do ano) é formada
de trechos de quatro evangelistas e nos faz ouvir o relato completo da última
Ceia, da traição de Judas e da prisão de Cristo no jardim.
O hino dos Querubins e a antífona da comunhão são
substituídos pelas palavras da oração antes da comunhão:
«Recebe-me
Senhor neste dia
Na tua mística Ceia
Eu não desvendarei os mistérios aos teus inimigos
Eu não te darei um beijo como Judas
Mas como o ladrão arrependido eu te confesso.
Lembra-te de mim Senhor no Teu Reino. Aleluia! Aleluia! Aleluia!»
Na tua mística Ceia
Eu não desvendarei os mistérios aos teus inimigos
Eu não te darei um beijo como Judas
Mas como o ladrão arrependido eu te confesso.
Lembra-te de mim Senhor no Teu Reino. Aleluia! Aleluia! Aleluia!»
FONTE:
Alexandre
Schmémann, Olivier Clément. «O Mistério Pascal - Comentários Litúrgicos»
Extraído
do site ecclesia.com.br
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