«Grande
e Santa Quarta-Feira»
Memória de São Simeão, apóstolo [dos 70], parente do Senhor,
bispo de Jerusalém, mártir († 107).
Nesta
quarta-feira, a Igreja dá-nos o exemplo da adúltera que, uma vez tendo se
encontrado com o Senhor, percebeu a gravidade de seus pecados, caiu perante Ele
e lavou os Seus pés com lágrimas e preciosos perfumes. Os hinos desta manhã
exortam-nos a imitar a mulher pecadora confessando nossos pecados e nos
afastando deles. Santa Unção em recordação desse tremendo ato de amor trazido
por aquela que estava em pecado, a Igreja traz-nos nesta noite os santos óleos,
e celebra o Sacramento da Unção para a saúde do corpo, da mente e do espírito.
Nesta
quarta-feira, a Igreja dá-nos o exemplo da adúltera que, uma vez tendo se
encontrado com o Senhor, percebeu a gravidade de seus pecados, caiu perante Ele
e lavou os Seus pés com lágrimas e preciosos perfumes. Os hinos desta manhã
exortam-nos a imitar a mulher pecadora confessando nossos pecados e nos
afastando deles. Santa Unção em recordação desse tremendo ato de amor trazido
por aquela que estava em pecado, a Igreja traz-nos nesta noite os santos óleos,
e celebra o Sacramento da Unção para a saúde do corpo, da mente e do espírito.
6º hora
Profecia do Livro de Ezequiel. Ez 2,3-3,3
E disse-me:
Filho do homem, eu te envio aos filhos de Israel, às nações rebeldes que se
rebelaram contra mim; eles e seus pais transgrediram contra mim até este mesmo
dia. E os filhos são de semblante duro, e obstinados de coração; eu te envio a
eles, e lhes dirás: Assim diz o Senhor DEUS. E eles, quer ouçam quer deixem de
ouvir (porque eles são casa rebelde), hão de saber, contudo, que esteve no meio
deles um profeta. E tu, ó filho do homem, não os temas, nem temas as suas
palavras; ainda que estejam contigo sarças e espinhos, e tu habites entre
escorpiões, não temas as suas palavras, nem te assustes com os seus semblantes,
porque são casa rebelde. Mas tu lhes dirás as minhas palavras, quer ouçam quer
deixem de ouvir, pois são rebeldes. Mas tu, ó filho do homem, ouve o que eu te
falo, não sejas rebelde como a casa rebelde; abre a tua boca, e come o que eu
te dou. Então vi, e eis que uma mão se estendia para mim, e eis que nela havia
um rolo de livro. E estendeu-o diante de mim, e ele estava escrito por dentro e
por fora; e nele estavam escritas lamentações, e suspiros e ais. Depois me
disse: Filho do homem, come o que achares; come este rolo, e vai, fala à casa
de Israel. Então abri a minha boca, e me deu a comer o rolo. E disse-me: Filho
do homem, dá de comer ao teu ventre, e enche as tuas entranhas deste rolo que
eu te dou. Então o comi, e era na minha boca doce como o mel.
Vésperas
Primeira Leitura: Livro do Êxodo: Ex 2,11-22
E aconteceu naqueles
dias que, sendo Moisés já homem, saiu a seus irmãos, e atentou para as suas
cargas; e viu que um egípcio feria a um hebreu, homem de seus irmãos. E olhou a
um e a outro lado e, vendo que não havia ninguém ali, matou ao egípcio, e
escondeu-o na areia. E tornou a sair no dia seguinte, e eis que dois homens
hebreus contendiam; e disse ao injusto: Por que feres a teu próximo? O qual
disse: Quem te tem posto a ti por maioral e juiz sobre nós? Pensas matar-me,
como mataste o egípcio? Então temeu Moisés, e disse: Certamente este negócio
foi descoberto. Ouvindo, pois, Faraó este caso, procurou matar a Moisés; mas
Moisés fugiu de diante da face de Faraó, e habitou na terra de Midiã, e
assentou-se junto a um poço. E o sacerdote de Midiã tinha sete filhas, as quais
vieram tirar água, e encheram os bebedouros, para dar de beber ao rebanho de
seu pai. Então vieram os pastores, e expulsaram-nas dali; Moisés, porém,
levantou-se e defendeu-as, e deu de beber ao rebanho. E voltando elas a Reuel
seu pai, ele disse: Por que hoje tornastes tão depressa? E elas disseram: Um
homem egípcio nos livrou da mão dos pastores; e também nos tirou água em
abundância, e deu de beber ao rebanho. E disse a suas filhas: E onde está ele?
Por que deixastes o homem? Chamai-o para que coma pão. E Moisés consentiu em
morar com aquele homem; e ele deu a Moisés sua filha Zípora, A qual deu à luz
um filho, a quem ele chamou Gérson, porque disse: Peregrino fui em terra
estranha.
Segunda Leitura: Livro de Jó: Jó 2,1-10
E vindo outro dia, em que os
filhos de Deus vieram apresentar-se perante o SENHOR, veio também Satanás entre
eles, apresentar-se perante o SENHOR. Então o Senhor disse a Satanás: Donde
vens? E respondeu Satanás ao Senhor, e disse: De rodear a terra, e passear por
ela. E disse o Senhor a Satanás: Observaste o meu servo Jó? Porque ninguém há
na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desvia
do mal, e que ainda retém a sua sinceridade, havendo-me tu incitado contra ele,
para o consumir sem causa. Então Satanás respondeu ao Senhor, e disse: Pele por
pele, e tudo quanto o homem tem dará pela sua vida. Porém estende a tua mão, e
toca-lhe nos ossos, e na carne, e verás se não blasfema contra ti na tua face!
E disse o Senhor a Satanás: Eis que ele está na tua mão; porém guarda a sua
vida. Então saiu Satanás da presença do Senhor, e feriu a Jó de úlceras
malignas, desde a planta do pé até ao alto da cabeça. E Jó tomou um caco para
se raspar com ele; e estava assentado no meio da cinza. Então sua mulher lhe
disse: Ainda reténs a tua sinceridade? Amaldiçoa a Deus, e morre. Porém ele lhe
disse: Como fala qualquer doida, falas tu; receberemos o bem de Deus, e não
receberíamos o mal? Em tudo isto não pecou Jó com os seus lábios.
Matinas
Evangelho: Jo 12,17-50
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, segundo o Evangelista São João:
Naquele tempo, quando Lázaro foi chamado da
sepultura, a multidão que estava com Jesus testificava que ele o ressuscitara
dentre os mortos. Por isso a multidão lhe saiu ao encontro, porque tinham
ouvido que ele fizera este sinal. Disseram, pois, os fariseus entre si: Vedes
que nada aproveitais? Eis que toda a gente vai após ele. Ora, havia alguns
gregos, entre os que tinham subido a adorar no dia da festa. Estes, pois,
dirigiram-se a Filipe, que era de Betsaida da Galiléia, e rogaram-lhe, dizendo:
Senhor, queríamos ver a Jesus. Filipe foi dizê-lo a André, e então André e
Filipe o disseram a Jesus. E Jesus lhes respondeu, dizendo: É chegada a hora em
que o Filho do homem há de ser glorificado. Na verdade, na verdade vos digo
que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se
morrer, dá muito fruto. Quem ama a sua vida perdê-la-á, e quem neste mundo
odeia a sua vida, guardá-la-á para a vida eterna. Se alguém me serve, siga-me,
e onde eu estiver, ali estará também o meu servo. E, se alguém me servir, meu
Pai o honrará. Agora a minha alma está perturbada; e que direi eu? Pai,
salva-me desta hora; mas para isto vim a esta hora. Pai, glorifica o teu nome.
Então veio uma voz do céu que dizia: Já o tenho glorificado, e outra vez o
glorificarei. Ora, a multidão que ali estava, e que a ouvira, dizia que havia
sido um trovão. Outros diziam: Um anjo lhe falou. Respondeu Jesus, e disse: Não
veio esta voz por amor de mim, mas por amor de vós. Agora é o juízo deste
mundo; agora será expulso o príncipe deste mundo. E eu, quando for levantado da
terra, todos atrairei a mim. E dizia isto, significando de que morte havia de
morrer. Respondeu-lhe a multidão: Nós temos ouvido da lei, que o Cristo
permanece para sempre; e como dizes tu que convém que o Filho do homem seja
levantado? Quem é esse Filho do homem? Disse-lhes, pois, Jesus: A luz ainda
está convosco por um pouco de tempo. Andai enquanto tendes luz, para que as
trevas não vos apanhem; pois quem anda nas trevas não sabe para onde vai.
Enquanto tendes luz, crede na luz, para que sejais filhos da luz. Estas coisas
disse Jesus e, retirando-se, escondeu-se deles. E, ainda que tinha feito tantos
sinais diante deles, não criam nele; para que se cumprisse a palavra do profeta
Isaías, que diz: Senhor, quem creu na nossa pregação? E a quem foi revelado o
braço do Senhor? Por isso não podiam crer, entào Isaías disse outra vez:
Cegou-lhes os olhos, e endureceu-lhes o coração, A fim de que não vejam com os
olhos, e compreendam no coração, E se convertam, E eu os cure. Isaías disse
isto quando viu a sua glória e falou dele. Apesar de tudo, até muitos dos
principais creram nele; mas não o confessavam por causa dos fariseus, para não
serem expulsos da sinagoga. Porque amavam mais a glória dos homens do que a
glória de Deus. E Jesus clamou, e disse: Quem crê em mim, crê, não em mim, mas
naquele que me enviou. E quem me vê a mim, vê aquele que me enviou. Eu sou a
luz que vim ao mundo, para que todo aquele que crê em mim não permaneça nas
trevas. E se alguém ouvir as minhas palavras, e não crer, eu não o julgo;
porque eu vim, não para julgar o mundo, mas para salvar o mundo. Quem me
rejeitar a mim, e não receber as minhas palavras, já tem quem o julgue; a
palavra que tenho pregado, essa o há de julgar no último dia. Porque eu não
tenho falado de mim mesmo; mas o Pai, que me enviou, ele me deu mandamento
sobre o que hei de dizer e sobre o que hei de falar. E sei que o seu mandamento
é a vida eterna. Portanto, o que eu falo, falo-o como o Pai mo tem dito.
Liturgia dos Pré-Santificados
Tropário:
Eis
que o esposo vem no meio da noite.
Feliz o servo que ele encontrar vigilante.
Aquele, porém, que encontrar imprevidente, será considerado indigno de acompanhá-lo.
Acautela-te, pois, ó minha alma, a fim de que não sejas entregue à morte e fiques fora das portas do Reino.
Mas, desperta, clamando: "Santo, Santo, Santo és ó Senhor!
Pela intercessão da Mãe de Deus, tem piedade de nós!
Feliz o servo que ele encontrar vigilante.
Aquele, porém, que encontrar imprevidente, será considerado indigno de acompanhá-lo.
Acautela-te, pois, ó minha alma, a fim de que não sejas entregue à morte e fiques fora das portas do Reino.
Mas, desperta, clamando: "Santo, Santo, Santo és ó Senhor!
Pela intercessão da Mãe de Deus, tem piedade de nós!
Kondakion:
Pequei mais que a pecadora, ó Bom Deus, mas não te ofereci torrentes de
lágrimas.
Prostro-me agora, diante de Ti, adorando-te em
silêncio e beijando com
amor teus pés imaculados, a
fim de que tu, que és o Senhor, perdoes
as minhas culpas, a mim que clamo:
"Ó Salvador, tira-me da lama de minhas ações!"
Epístola: 1Cor 2,6-9
Leitura da Primeira Epístola de São
Paulo aos Coríntios:
Irmãos, o que pregamos entre os perfeitos é uma
sabedoria, porém não a sabedoria deste mundo nem a dos grandes deste mundo, que
são, aos olhos daquela, desqualificados. Pregamos a sabedoria de Deus,
misteriosa e secreta, que Deus predeterminou antes de existir o tempo, para a
nossa glória. Sabedoria que nenhuma autoridade deste mundo conheceu {pois se a
houvessem conhecido, não teriam crucificado o Senhor da glória}. É como está
escrito: Coisas que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração
humano imaginou {Is 64,4}, tais são os bens que Deus tem preparado para aqueles
que o amam.
Evangelho: Mt 26,6-16
Evangelho
de Nosso Senhor Jesus Cristo, segundo o Evangelista São Mateus:
Naquele tempo, estando Jesus em Betânia, em
casa de Simão, o leproso, aproximou-se dele uma mulher com um vaso de
alabastro, com ungüento de grande valor, e derramou-lho sobre a cabeça, quando
ele estava assentado à mesa. E os seus discípulos, vendo isto, indignaram-se,
dizendo: Por que é este desperdício? Pois este ungüento podia vender-se por
grande preço, e dar-se o dinheiro aos pobres. Jesus, porém, conhecendo isto,
disse-lhes: Por que afligis esta mulher? pois praticou uma boa ação para
comigo. Porquanto sempre tendes convosco os pobres, mas a mim não me haveis de
ter sempre. Ora, derramando ela este ungüento sobre o meu corpo, fê-lo
preparando-me para o meu sepultamento. Em verdade vos digo que, onde quer que
este evangelho for pregado em todo o mundo, também será referido o que ela fez,
para memória sua. Então um dos doze, chamado Judas Iscariotes, foi ter com os
príncipes dos sacerdotes, E disse: Que me quereis dar, e eu vo-lo entregarei? E
eles lhe pesaram trinta moedas de prata, E desde então buscava oportunidade
para o entregar.
Sinaxe
Pe. Paulo A. Tamanini
Segunda, Terça e Quarta-feira Santa: o Fim
Esses três dias, que a Igreja chama de grandes e santos, têm, dentro do desenrolar da semana santa, uma finalidade bem definida. Eles situam as celebrações dentro da perspectiva do Fim, eles nos relembram o sentido escatológico da Páscoa. Muito freqüentemente a semana santa é considerada como uma "linda tradição," um "costume," uma data importante do calendário. É o acontecimento anual esperado e amado, a Festa "observada" desde a infância, durante a qual a gente se encanta com a beleza dos ofícios, com o fausto dos ritos, e na qual a gente se ocupa de preparar a ceia pascal, que não é de menor importância. . . Depois, uma vez que tudo isto tenha acabado, nós retomamos a vida normal. Mas, teremos mesmo consciência de que "a vida normal" não é mais possível depois que o mundo rejeitou seu Salvador, depois que "Jesus ficou triste e abatido.. .," que sua alma "ficou infinitamente triste até a morte..." e que ele morreu na cruz? Foram mesmo homens "normais" que gritaram: "Crucifica-o!" Homens normais que cuspiram nele e o pregaram na cruz. . . Se eles o odiaram e o mataram, é precisamente porque ele veio sacudir e desestabilizar sua vida normal. Foi mesmo um mundo perfeitamente "normal" que preferiu as trevas e a morte, em lugar da vida e da luz. . . pela morte de Jesus o mundo "normal," a vida "normal" foram irrevogavelmente condenados. Ou, mais exatamente, o mundo e a vida revelaram sua natureza verdadeira e anormal, sua incapacidade de acolher a luz, o terrível poder que o mal exerce sobre eles. "É agora o julgamento deste mundo" (Jo 12,31). A Páscoa de Jesus significa o fim para "este mundo" e, desde então, ele está "no seu fim." Este fim pode se estender por centenas de séculos, mas isto não altera em nada a natureza dos tempos em que vivemos, que é "o último tempo." "O rosto deste mundo passa" (ICor 7,31).
Páscoa significa "passagem"; para os judeus a festa da Páscoa era a comemoração anual de toda sua história, enquanto salvação, e da salvação enquanto passagem da escravidão no Egito à liberdade, do exílio à Terra prometida. A Páscoa era também a prefiguração da derradeira passagem, que conduz ao Reino de Deus. Ele, o Cristo, é o cumprimento da Páscoa. Ele completou a derradeira passagem, a da morte para a vida, deste "mundo velho" ao mundo novo, ao tempo novo do Reino. Ele tornou possível para nós esta passagem. Vivendo "neste mundo," nós podemos já "não ser deste mundo"; quer dizer, estarmos livres da escravidão da morte e do pecado, participantes do "mundo que há de vir." Mas, é necessário para tanto cumprirmos nossa própria passagem, condenar o velho Adão em nós mesmos, revestir o Cristo na morte batismal e ter nossa verdadeira vida oculta em Deus com o Cristo, no "mundo que há de vir..."
A Páscoa não é, pois, mais uma comemoração, bonita e solene, de um acontecimento passado. É o próprio acontecimento manifestado, dado a nós, acontecimento sempre eficiente, que revela que o nosso mundo, nosso tempo e nossa vida estão no seu fim, e que anuncia o começo da vida nova. O papel dos três primeiros dias da semana santa é, precisamente, o de nos colocar diante do sentido último da Páscoa, de nos preparar para compreendê-la em toda sua amplidão.
Esta orientação escatológica, quer dizer, última, decisiva e final, é bem sublinhada pelo tropário comum a esses três dias:
«Eis que aparece o Esposo no meio da noite! Feliz o cervo que Ele encontrar acordado, infeliz o que Ele encontrar indolente. Vigia, pois, ó minh'alma: não te deixes vencer pelo sono! À morte tu serias entregue, para fora do Reino banida. Mas, acorda e clama: Santo, Sato, Santo és Tu, ó Deus! pelas orações da Mãe de Deus, tem piedade de nós!»
Meia-noite é o instante em que o dia velho termina para dar lugar a um novo dia. Esta hora é assim para o cristão o símbolo do tempo em que vive. Por um lado, a Igreja está ainda neste mundo, compartilhando de suas fraquezas e tragédias. Por outro, seu ser verdadeiro não é deste mundo, pois ela é a Esposa de Cristo e sua missão é de anunciar e revelar a chegada do Reino e do novo Dia. Sua vida é um velar perpétuo e uma espera, uma vigília orientada para a aurora desse novo Dia. . . mas nós sabemos o quanto nosso apego ao "velho dia," ao mundo, com suas paixões e pecados, permanece ainda bastante tenaz. Nós sabemos o quanto ainda pertencemos profundamente a "este mundo." Nós vimos a luz, nós conhecemos o Cristo, nós ouvimos falar da paz e da alegria da vida nova nele, e, entretanto, o mundo nos mantém ainda em escravidão. Esta fraqueza, esta constante traição ao Cristo e esta incapacidade de dedicar a totalidade do nosso amor ao único objeto de amor verdadeiro, são magnificamente expressadas no exapostilário desses três dias:
«Eu contemplo tua câmara nupcial, ó Salvador meu! Ela está toda enfeitada, e eu não tenho as vestes para nela entrar. Torna luminosa a roupagem da minha alma, ó Tu que dás a luz, e salva-me!»
O mesmo tema é ainda mais desenvolvido nas leituras do Evangelho destes dias. Primeiro, é o texto inteiro dos quatro evangelhos (até Jo 13.31), lido nas Horas (Prima, Tércia, Sexta, Nona), que mostra que a cruz é o apogeu de toda a vida de Jesus e de seu mistério, a chave para verdadeiramente o compreender. Tudo, no Evangelho, conduz a esta última "hora de Jesus" e tudo deve ser visto sob sua luz. Em seguida, cada ofício possui seu próprio pericópio de evangelho.
A Segunda-Feira Santa
Nas matinas: Mt 21,18-43 — a parábola da figueira estéril, símbolo do mundo criado para dar frutos espirituais e relutante em sua resposta a Deus.
Na liturgia dos Pré-santifícados: Mateus, 24,3-35 — o grande discurso escatológico de Jesus, os sinais e o anúncio do Fim. "O céu e a terra passarão, mas minhas palavras não passarão."
A Terça-Feira Santa
Nas matinas: Mateus 22,15-23,39 — condenação do farisaísmo, quer dizer, da religião cega e hipócrita daqueles que pensam que são condutores de homens e a luz do mundo, mas que, de fato, "fecham o Reino dos céus aos homens."
Na liturgia dos Pré-santifícados: Mateus 24,36-26,2 — o Fim; as parábolas do Fim: as cinco virgens que têm óleo suficiente em suas lâmpadas, e as cinco néscias que não são admitidas no banquete de núpcias; a parábola dos dez talentos: "Estejai prontos, pois eis que o Filho do Homem virá à hora em que não o pensais." E finalmente, o Juízo Final.
A Quarta-Feira Santa
Nas matinas: Jo 12,17-50 — a rejeição do Cristo; o acirramento do conflito; o último aviso: "É agora o julgamento deste mundo. . . aquele que me rejeita e não recebe minhas palavras terá seu juiz: a palavra que anunciei, ela é que o julgará no último dia."
Na liturgia dos Pré-santifícados: Mateus 26,6-16 — a mulher que derrama o óleo precioso sobre Jesus, imagem do amor e do arrependimento que, sozinhos, nos unem ao Cristo.
Estas perícopes do evangelho são explicadas e comentadas na hinografia desses dias: os estiquérios (stykeroi), as triodes (cânones curtos de três odes cantados nas matinas) ao longo dos quais ecoa esta exortação: o fim e o julgamento estão próximos, preparemo-nos!
«Indo, Senhor, para Tua Paixão voluntária, no caminho Tu dizias aos Teus apóstolos: Eis que subimos a Jerusalém e que o Filho do Homem será entregue, segundo o que d'Ele está escrito. Vamos, pois, nós também, acompanhemo-lo, o espírito purificado; sejamos crucificados com ele e morramos Nele para as volúpias da vida a fim de vivermos com ele e de escutá-lo dizer: "Eu não subo mais a Jerusalém terrestre para sofrer, mas subo para meu Pai e vosso Pai, para meu Deus e vosso Deus, e eu vos farei subir comigo para a Jerusalém do alto, no Reino dos Céus».
(Segunda-feira nas Matinas)
«Ó, minh'alma, eis que o Mestre te confiou um talento. Recebe este dom com temor; Faze-o frutificar para aquele que to deu; distribua-o aos pobres e tu terás o Senhor como amigo. Assim, quando Ele vier em Sua glória, tu ficarás a Sua direita e tu ouvirás a palavra bem-aventurada: "Entra, servo meu, na alegria de teu Mestre" "Em Tua grande misericórdia, faz que eu seja digno, apesar do meu afastamento, oh, Salvador!»
(Terça-feira nas Matinas)
Durante todo o tempo de quaresma, lê-se nas vésperas dois livros do Antigo Testamento: o Gênesis e os Provérbios; no começo da Semana Santa, eles são substituídos pelo Êxodo e pelo Livro de Jó. O Livro do Êxodo é a história da libertação de Israel da escravidão no Egito, e de sua Páscoa; ele nos predispõe a alcançar o sentido do êxodo do Cristo rumo a seu Pai, do cumprimento Nele de toda a história da salvação. Jó, o homem da dor, é o ícone de Cristo do Antigo Testamento. Esta leitura anuncia o grande mistério dos sofrimentos do Cristo, de sua obediência e de seu sacrifício.
A estrutura litúrgica destes três dias é ainda aquela dos ofícios de quaresma: ela compreende a oração de Santo Efrém, o Sírio, e as metanóias que o acompanham (1), a leitura mais longa do salmodiário, a Liturgia dos Pré-Santificados e o canto litúrgico da quaresma. Nós estamos ainda no tempo do arrependimento, porque só o arrependimento pode nos fazer participar da Páscoa de nosso Senhor e nos abrir as portas do festim pascal.
Na grande e santa quarta-feira, durante a última Liturgia dos Pré-santificados, depois de ter alçado os santos Dons sobre o altar, o padre lê uma última vez a oração de Santo Efrém. Neste momento, a preparação chega a termo. O Senhor nos convida agora para a sua última Ceia.
«Senhor e mestre de minha vida Afasta de mim o espírito de preguiça, o espírito de dissipação de domínio e de vã loquacidade Concede a teu servo o espírito da temperança de humildade de paciência e de caridade Sim, Senhor e Rei, Concede-me que veja as minhas faltas e que não julgue a meu irmão pois tu és bendito pelos séculos dos séculos. Amém».
(l) Esta oração, atribuída a Santo Efrém, o Sírio, é lida duas vezes ao final de cada ofício de quaresma, de segunda a sexta-feira: diz-se uma primeira vez fazendo uma metanóia depois de cada súplica; depois inclina-se doze vezes dizendo: "Ó Deus, purifica-me, pecador!"; por fim, repete-se toda a oração com uma última prosternação no final.
FONTE:
Alexandre Schmémann, Olivier Clément. «O Mistério Pascal - Comentários Litúrgicos»
Extraído do site ecclesia.com.br
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