«Grande e
Santa Terça-Feira»
Memória dos Santos Basílio, bispo de Amaséia († 322) e Glafyra a
Virtuosa;
e Santo Etienne, primeiro bispo de Perm (†1396).
Na
terça-feira, nós recordamos a parábola do Senhor quanto às virgens prudentes e
às virgens tolas. As prudentes aguardaram continuamente a vinda de seu Mestre
vigilantes, com suas lâmpadas queimando na escuridão. As tolas foram dormir,
pensando que teriam tempo suficiente para se aprontar no último minuto. Mas o
Esposo veio no meio da noite, recompensando aquelas que se mantiveram atentas
para Ele, e repelindo aquelas que desperdiçaram a oportunidade de se preparar
para encontrá-lo.
e Santo Etienne, primeiro bispo de Perm (†1396).
Na
terça-feira, nós recordamos a parábola do Senhor quanto às virgens prudentes e
às virgens tolas. As prudentes aguardaram continuamente a vinda de seu Mestre
vigilantes, com suas lâmpadas queimando na escuridão. As tolas foram dormir,
pensando que teriam tempo suficiente para se aprontar no último minuto. Mas o
Esposo veio no meio da noite, recompensando aquelas que se mantiveram atentas
para Ele, e repelindo aquelas que desperdiçaram a oportunidade de se preparar
para encontrá-lo.
6º hora
Profecia do Livro de Ezequiel. Ez 1,21-28
Andando eles, andavam elas e, parando eles, paravam elas e,
elevando-se eles da terra, elevavam-se também as rodas defronte deles; porque o
espírito do ser vivente estava nas rodas. E sobre as cabeças dos seres viventes
havia uma semelhança de firmamento, com a aparência de cristal terrível,
estendido por cima, sobre as suas cabeças. E debaixo do firmamento estavam as
suas asas direitas uma em direção à outra; cada um tinha duas, que lhe cobriam
o corpo de um lado; e cada um tinha outras duas asas, que os cobriam do outro
lado. E, andando eles, ouvi o ruído das suas asas, como o ruído de muitas
águas, como a voz do Onipotente, um tumulto como o estrépito de um exército;
parando eles, abaixavam as suas asas. E ouviu-se uma voz vinda do firmamento,
que estava por cima das suas cabeças; parando eles, abaixavam as suas asas. E
por cima do firmamento, que estava por cima das suas cabeças, havia algo
semelhante a um trono que parecia de pedra de safira; e sobre esta espécie de
trono havia uma figura semelhante a de um homem, na parte de cima, sobre ele. E
vi-a como a cor de âmbar, como a aparência do fogo pelo interior dele ao redor,
desde o aspecto dos seus lombos, e daí para cima; e, desde o aspecto dos seus
lombos e daí para baixo, vi como a semelhança de fogo, e um resplendor ao redor
dele. Como o aspecto do arco que aparece na nuvem no dia da chuva, assim era o
aspecto do resplendor em redor. Este era o aspecto da semelhança da glória do
Senhor; e, vendo isto, caí sobre o meu rosto, e ouvi a voz de quem falava.
Vésperas
Primeira Leitura: Livro do Êxodo: Ex 2,5-10
E a filha de Faraó
desceu a lavar-se no rio, e as suas donzelas passeavam, pela margem do rio; e
ela viu a arca no meio dos juncos, e enviou a sua criada, que a tomou. E
abrindo-a, viu ao menino e eis que o menino chorava; e moveu-se de compaixão
dele, e disse: Dos meninos dos hebreus é este. Então disse sua irmã à filha de
Faraó: Irei chamar uma ama das hebréias, que crie este menino para ti? E a
filha de Faraó disse-lhe: Vai. Foi, pois, a moça, e chamou a mãe do menino.
Então lhe disse a filha de Faraó: Leva este menino, e cria-mo; eu te darei teu
salário. E a mulher tomou o menino, e criou-o. E, quando o menino já era
grande, ela o trouxe à filha de Faraó, a qual o adotou; e chamou-lhe Moisés, e
disse: Porque das águas o tenho tirado.
Segunda Leitura: Livro de Jó: Jó 1,13-22
E sucedeu um dia, em que seus filhos e suas filhas comiam, e
bebiam vinho, na casa de seu irmão primogênito, que veio um mensageiro a Jó, e
lhe disse: Os bois lavravam, e as jumentas pastavam junto a eles; e deram sobre
eles os sabeus, e os tomaram, e aos servos feriram ao fio da espada; e só eu
escapei para trazer-te a nova. Estando este ainda falando, veio outro e disse:
Fogo de Deus caiu do céu, e queimou as ovelhas e os servos, e os consumiu, e só
eu escapei para trazer-te a nova. Estando ainda este falando, veio outro, e
disse: Ordenando os caldeus três tropas, deram sobre os camelos, e os tomaram,
e aos servos feriram ao fio da espada; e só eu escapei para trazer-te a nova.
Estando ainda este falando, veio outro, e disse: Estando teus filhos e tuas
filhas comendo e bebendo vinho, em casa de seu irmão primogênito, eis que um
grande vento sobreveio dalém do deserto, e deu nos quatro cantos da casa, que
caiu sobre os jovens, e morreram; e só eu escapei para trazer-te a nova. Então
Jó se levantou, e rasgou o seu manto, e rapou a sua cabeça, e se lançou em
terra, e adorou. E disse: Nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá;
o Senhor o deu, e o Senhor o tomou: bendito seja o nome do Senhor. Em tudo isto
Jó não pecou, nem atribuiu a Deus falta alguma.
Matinas
Evangelho: Mt 22,15-23,39
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, segundo o Evangelista São Mateus:
Naquele tempo,
retirando-se os fariseus, consultaram entre si como o surpreenderiam nalguma
palavra; e enviaram-lhe os seus discípulos, com os herodianos, dizendo: Mestre,
bem sabemos que és verdadeiro, e ensinas o caminho de Deus segundo a verdade, e
de ninguém se te dá, porque não olhas a aparência dos homens. Dize-nos, pois,
que te parece? É lícito pagar o tributo a César, ou não? Jesus, porém,
conhecendo a sua malícia, disse: Por que me experimentais, hipócritas?
Mostrai-me a moeda do tributo. E eles lhe apresentaram um dinheiro. E ele
diz-lhes: De quem é esta efígie e esta inscrição? Dizem-lhe eles: De César.
Então ele lhes disse: Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de
Deus. E eles, ouvindo isto, maravilharam-se, e, deixando-o, se retiraram. No
mesmo dia chegaram junto dele os saduceus, que dizem não haver ressurreição, e
o interrogaram, dizendo: Mestre, Moisés disse: Se morrer alguém, não tendo
filhos, casará o seu irmão com a mulher dele, e suscitará descendência a seu
irmão. Ora, houve entre nós sete irmãos; e o primeiro, tendo casado, morreu e,
não tendo descendência, deixou sua mulher a seu irmão. Da mesma sorte o
segundo, e o terceiro, até ao sétimo; por fim, depois de todos, morreu também a
mulher. Portanto, na ressurreição, de qual dos sete será a mulher, visto que
todos a possuíram? Jesus, porém, respondendo, disse-lhes: Errais, não
conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus. Porque na ressurreição nem casam
nem são dados em casamento; mas serão como os anjos de Deus no céu. E, acerca
da ressurreição dos mortos, não tendes lido o que Deus vos declarou, dizendo:
Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó? Ora, Deus não é
Deus dos mortos, mas dos vivos. E, as turbas, ouvindo isto, ficaram
maravilhadas da sua doutrina. E os fariseus, ouvindo que ele fizera emudecer os
saduceus, reuniram-se no mesmo lugar. E um deles, doutor da lei, interrogou-o
para o experimentar, dizendo: Mestre, qual é o grande mandamento na lei? E
Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a
tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E
o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes
dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas. E, estando reunidos os fariseus,
interrogou-os Jesus, dizendo: Que pensais vós do Cristo? De quem é filho? Eles
disseram-lhe: De Davi. Disse-lhes ele: Como é então que Davi, em espírito, lhe
chama Senhor, dizendo: Disse o Senhor ao meu Senhor:Assenta-te à minha
direita,Até que eu ponha os teus inimigos por escabelo de teus pés? Se Davi,
pois, lhe chama Senhor, como é seu filho? E ninguém podia responder-lhe uma
palavra; nem desde aquele dia ousou mais alguém interrogá-lo. Então falou Jesus
à multidão, e aos seus discípulos, dizendo: Na cadeira de Moisés estão
assentados os escribas e fariseus. Todas as coisas, pois, que vos disserem que
observeis, observai-as e fazei-as; mas não procedais em conformidade com as
suas obras, porque dizem e não fazem; pois atam fardos pesados e difíceis de
suportar, e os põem aos ombros dos homens; eles, porém, nem com seu dedo querem
movê-los; e fazem todas as obras a fim de serem vistos pelos homens; pois
trazem largos filactérios, e alargam as franjas das suas vestes, e amam os
primeiros lugares nas ceias e as primeiras cadeiras nas sinagogas, e as
saudações nas praças, e o serem chamados pelos homens; Rabi, Rabi. Vós, porém,
não queirais ser chamados Rabi, porque um só é o vosso Mestre, a saber, o
Cristo, e todos vós sois irmãos. E a ninguém na terra chameis vosso pai, porque
um só é o vosso Pai, o qual está nos céus. Nem vos chameis mestres, porque um
só é o vosso Mestre, que é o Cristo. O maior dentre vós será vosso servo. E o
que a si mesmo se exaltar será humilhado; e o que a si mesmo se humilhar será
exaltado. Mas ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que fechais aos
homens o reino dos céus; e nem vós entrais nem deixais entrar aos que estão
entrando. Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que devorais as
casas das viúvas, sob pretexto de prolongadas orações; por isso sofrereis mais
rigoroso juízo. Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que percorreis
o mar e a terra para fazer um prosélito; e, depois de o terdes feito, o fazeis
filho do inferno duas vezes mais do que vós. Ai de vós, condutores cegos! pois
que dizeis: Qualquer que jurar pelo templo, isso nada é; mas o que jurar pelo
ouro do templo, esse é devedor. Insensatos e cegos! Pois qual é maior: o ouro,
ou o templo, que santifica o ouro? E aquele que jurar pelo altar isso nada é;
mas aquele que jurar pela oferta que está sobre o altar, esse é devedor.
Insensatos e cegos! Pois qual é maior: a oferta, ou o altar, que santifica a
oferta? Portanto, o que jurar pelo altar, jura por ele e por tudo o que sobre
ele está; e, o que jurar pelo templo, jura por ele e por aquele que nele
habita; e, o que jurar pelo céu, jura pelo trono de Deus e por aquele que está
assentado nele. Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que dizimais a
hortelã, o endro e o cominho, e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a
misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer estas coisas, e não omitir aquelas.
Condutores cegos! que coais um mosquito e engulis um camelo. Ai de vós,
escribas e fariseus, hipócritas! pois que limpais o exterior do copo e do
prato, mas o interior está cheio de rapina e de intemperança. Fariseu cego!
limpa primeiro o interior do copo e do prato, para que também o exterior fique
limpo. Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que sois semelhantes
aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas
interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda a imundícia. Assim
também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas interiormente estais
cheios de hipocrisia e de iniqüidade. Ai de vós, escribas e fariseus,
hipócritas! pois que edificais os sepulcros dos profetas e adornais os
monumentos dos justos, e dizeis: Se existíssemos no tempo de nossos pais, nunca
nos associaríamos com eles para derramar o sangue dos profetas. Assim, vós mesmos
testificais que sois filhos dos que mataram os profetas. Enchei vós, pois, a
medida de vossos pais. Serpentes, raça de víboras! como escapareis da
condenação do inferno? Portanto, eis que eu vos envio profetas, sábios e
escribas; a uns deles matareis e crucificareis; e a outros deles açoitareis nas
vossas sinagogas e os perseguireis de cidade em cidade; para que sobre vós caia
todo o sangue justo, que foi derramado sobre a terra, desde o sangue de Abel, o
justo, até ao sangue de Zacarias, filho de Baraquias, que matastes entre o
santuário e o altar. Em verdade vos digo que todas estas coisas hão de vir
sobre esta geração. Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os
que te são enviados! quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha
ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste! Eis que a vossa casa
vai ficar-vos deserta; Porque eu vos digo que desde agora me não vereis mais,
até que digais: Bendito o que vem em nome do Senhor.
Liturgia dos Pré-Santificados
Tropário:
Eis que o esposo vem no meio da noite.Feliz o servo que ele encontrar vigilante Aquele, porém, que encontrar imprevidente, será considerado indigno de acompanhá-lo. Acautela-te, pois, ó minha alma, a fim de que não sejas entregue à morte e fiques fora das portas do Reino. Mas, desperta, clamando: "Santo, Santo, Santo és ó Senhor! Pela intercessão da Mãe de Deus, tem piedade de nós!
Kondakion:
Ó alma desventurada, quando
pensares com receio na hora da morte e na figueira cortada, cuida em fazer render o talento
a ti entregue e vigia clamando: "Não fiquemos fora da câmara nupcial de
Cristo!"
Epístola: Ef 1,1-9
Leitura da Epístola de São Paulo aos
Efésios:
Paulo, apóstolo de Jesus Cristo, pela vontade de Deus, aos
santos que estão em Éfeso, e fiéis em Cristo Jesus: A vós graça, e paz da parte
de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo! Bendito o Deus e Pai de nosso
Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos
lugares celestiais em Cristo; como também nos elegeu nele antes da fundação do
mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor; e nos
predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o
beneplácito de sua vontade, para louvor da glória de sua graça, pela qual nos
fez agradáveis a si no Amado, em quem temos a redenção pelo seu sangue, a
remissão das ofensas, segundo as riquezas da sua graça, que ele fez abundar
para conosco em toda a sabedoria e prudência; descobrindo-nos o mistério da sua
vontade, segundo o seu beneplácito, que propusera em si mesmo.
Evangelho: Mt 24,36-26,2
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, segundo o Evangelista São Mateus:
Naquele tempo, disse o Senhor: «Quanto a esse dia e hora,
ninguém sabe, nem os anjos do céu, mas unicamente meu Pai. E, como foi nos dias
de Noé, assim será também a vinda do Filho do homem. Porquanto, assim como, nos
dias anteriores ao dilúvio, comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento,
até ao dia em que Noé entrou na arca, E não o perceberam, até que veio o
dilúvio, e os levou a todos, assim será também a vinda do Filho do homem.
Então, estando dois no campo, será levado um, e deixado o outro; estando duas
moendo no moinho, será levada uma, e deixada outra. Vigiai, pois, porque não
sabeis a que hora há de vir o vosso Senhor. Mas considerai isto: se o pai de
família soubesse a que vigília da noite havia de vir o ladrão, vigiaria e não
deixaria minar a sua casa. Por isso, estai vós apercebidos também; porque o
Filho do homem há de vir à hora em que não penseis. Quem é, pois, o servo fiel
e prudente, que o seu senhor constituiu sobre a sua casa, para dar o sustento a
seu tempo? Bem-aventurado aquele servo que o seu senhor, quando vier, achar
servindo assim. Em verdade vos digo que o porá sobre todos os seus bens. Mas se
aquele mau servo disser no seu coração: O meu senhor tarde virá; e começar a
espancar os seus conservos, e a comer e a beber com os ébrios, virá o senhor
daquele servo num dia em que o não espera, e à hora em que ele não sabe, e
separá-lo-á, e destinará a sua parte com os hipócritas; ali haverá pranto e
ranger de dentes. Então o reino dos céus será semelhante a dez virgens que,
tomando as suas lâmpadas, saíram ao encontro do esposo. E cinco delas eram
prudentes, e cinco loucas. As loucas, tomando as suas lâmpadas, não levaram
azeite consigo. Mas as prudentes levaram azeite em suas vasilhas, com as suas
lâmpadas. E, tardando o esposo, tosquenejaram todas, e adormeceram. Mas à
meia-noite ouviu-se um clamor: Aí vem o esposo, saí-lhe ao encontro. Então
todas aquelas virgens se levantaram, e prepararam as suas lâmpadas. E as loucas
disseram às prudentes: Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas lâmpadas se
apagam. Mas as prudentes responderam, dizendo: Não seja caso que nos falte a
nós e a vós, ide antes aos que o vendem, e comprai-o para vós. E, tendo elas
ido comprá-lo, chegou o esposo, e as que estavam preparadas entraram com ele
para as bodas, e fechou-se a porta. E depois chegaram também as outras virgens,
dizendo: Senhor, Senhor, abre-nos. E ele, respondendo, disse: Em verdade vos
digo que vos não conheço. Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora em
que o Filho do homem há de vir. Porque isto é também como um homem que,
partindo para fora da terra, chamou os seus servos, e entregou-lhes os seus
bens. E a um deu cinco talentos, e a outro dois, e a outro um, a cada um
segundo a sua capacidade, e ausentou-se logo para longe. E, tendo ele partido,
o que recebera cinco talentos negociou com eles, e granjeou outros cinco
talentos. Da mesma sorte, o que recebera dois, granjeou também outros dois. Mas
o que recebera um, foi e cavou na terra e escondeu o dinheiro do seu senhor. E
muito tempo depois veio o senhor daqueles servos, e fez contas com eles. Então
aproximou-se o que recebera cinco talentos, e trouxe-lhe outros cinco talentos,
dizendo: Senhor, entregaste-me cinco talentos; eis aqui outros cinco talentos
que granjeei com eles. E o seu senhor lhe disse: Bem está, servo bom e fiel.
Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu
senhor. E, chegando também o que tinha recebido dois talentos, disse: Senhor,
entregaste-me dois talentos; eis que com eles granjeei outros dois talentos.
Disse-lhe o seu senhor: Bem está, bom e fiel servo. Sobre o pouco foste fiel,
sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor. Mas, chegando também o
que recebera um talento, disse: Senhor, eu conhecia-te, que és um homem duro,
que ceifas onde não semeaste e ajuntas onde não espalhaste; e, atemorizado,
escondi na terra o teu talento; aqui tens o que é teu. Respondendo, porém, o
seu senhor, disse-lhe: Mau e negligente servo; sabias que ceifo onde não semeei
e ajunto onde não espalhei? Devias então ter dado o meu dinheiro aos banqueiros
e, quando eu viesse, receberia o meu com os juros. Tirai-lhe pois o talento, e
dai-o ao que tem os dez talentos. Porque a qualquer que tiver será dado, e terá
em abundância; mas ao que não tiver até o que tem ser-lhe-á tirado. Lançai,
pois, o servo inútil nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de
dentes. E quando o Filho do homem vier em sua glória, e todos os santos anjos
com ele, então se assentará no trono da sua glória; e todas as nações serão
reunidas diante dele, e apartará uns dos outros, como o pastor aparta dos bodes
as ovelhas; e porá as ovelhas à sua direita, mas os bodes à esquerda. Então
dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí
por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo; porque
tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro,
e hospedastes-me; estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na
prisão, e foste me ver. Então os justos lhe responderão, dizendo: Senhor,
quando te vimos com fome, e te demos de comer? ou com sede, e te demos de
beber? E quando te vimos estrangeiro, e te hospedamos? ou nu, e te vestimos? E
quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos ver-te? E, respondendo o Rei,
lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus
pequeninos irmãos, a mim o fizestes. Então dirá também aos que estiverem à sua
esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o
diabo e seus anjos; porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e
não me destes de beber; sendo estrangeiro, não me recolhestes; estando nu, não
me vestistes; e enfermo, e na prisão, não me visitastes. Então eles também lhe
responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, ou com sede, ou
estrangeiro, ou nu, ou enfermo, ou na prisão, e não te servimos? Então lhes
responderá, dizendo: Em verdade vos digo que, quando a um destes pequeninos o
não fizestes, não o fizestes a mim. E irão estes para o tormento eterno, mas os
justos para a vida eterna. E aconteceu que, quando Jesus concluiu todos estes
discursos, disse aos seus discípulos: Bem sabeis que daqui a dois dias é a
páscoa; e o Filho do homem será entregue para ser crucificado».
Sinaxe
Pe. Paulo A. Tamanini
Segunda, Terça e Quarta-feira Santa: o Fim
Esses três dias, que a Igreja chama de grandes e santos, têm, dentro do desenrolar da semana santa, uma finalidade bem definida. Eles situam as celebrações dentro da perspectiva do Fim, eles nos relembram o sentido escatológico da Páscoa. Muito freqüentemente a semana santa é considerada como uma "linda tradição," um "costume," uma data importante do calendário. É o acontecimento anual esperado e amado, a Festa "observada" desde a infância, durante a qual a gente se encanta com a beleza dos ofícios, com o fausto dos ritos, e na qual a gente se ocupa de preparar a ceia pascal, que não é de menor importância. . . Depois, uma vez que tudo isto tenha acabado, nós retomamos a vida normal. Mas, teremos mesmo consciência de que "a vida normal" não é mais possível depois que o mundo rejeitou seu Salvador, depois que "Jesus ficou triste e abatido.. .," que sua alma "ficou infinitamente triste até a morte..." e que ele morreu na cruz? Foram mesmo homens "normais" que gritaram: "Crucifica-o!" Homens normais que cuspiram nele e o pregaram na cruz. . . Se eles o odiaram e o mataram, é precisamente porque ele veio sacudir e desestabilizar sua vida normal. Foi mesmo um mundo perfeitamente "normal" que preferiu as trevas e a morte, em lugar da vida e da luz. . . pela morte de Jesus o mundo "normal," a vida "normal" foram irrevogavelmente condenados. Ou, mais exatamente, o mundo e a vida revelaram sua natureza verdadeira e anormal, sua incapacidade de acolher a luz, o terrível poder que o mal exerce sobre eles. "É agora o julgamento deste mundo" (Jo 12,31). A Páscoa de Jesus significa o fim para "este mundo" e, desde então, ele está "no seu fim." Este fim pode se estender por centenas de séculos, mas isto não altera em nada a natureza dos tempos em que vivemos, que é "o último tempo." "O rosto deste mundo passa" (ICor 7,31).
Páscoa significa "passagem"; para os judeus a festa da Páscoa era a comemoração anual de toda sua história, enquanto salvação, e da salvação enquanto passagem da escravidão no Egito à liberdade, do exílio à Terra prometida. A Páscoa era também a prefiguração da derradeira passagem, que conduz ao Reino de Deus. Ele, o Cristo, é o cumprimento da Páscoa. Ele completou a derradeira passagem, a da morte para a vida, deste "mundo velho" ao mundo novo, ao tempo novo do Reino. Ele tornou possível para nós esta passagem. Vivendo "neste mundo," nós podemos já "não ser deste mundo"; quer dizer, estarmos livres da escravidão da morte e do pecado, participantes do "mundo que há de vir." Mas, é necessário para tanto cumprirmos nossa própria passagem, condenar o velho Adão em nós mesmos, revestir o Cristo na morte batismal e ter nossa verdadeira vida oculta em Deus com o Cristo, no "mundo que há de vir..."
A Páscoa não é, pois, mais uma comemoração, bonita e solene, de um acontecimento passado. É o próprio acontecimento manifestado, dado a nós, acontecimento sempre eficiente, que revela que o nosso mundo, nosso tempo e nossa vida estão no seu fim, e que anuncia o começo da vida nova. O papel dos três primeiros dias da semana santa é, precisamente, o de nos colocar diante do sentido último da Páscoa, de nos preparar para compreendê-la em toda sua amplidão.
Esta orientação escatológica, quer dizer, última, decisiva e final, é bem sublinhada pelo tropário comum a esses três dias:
«Eis que aparece o Esposo no meio da noite! Feliz o cervo que Ele encontrar acordado, infeliz o que Ele encontrar indolente. Vigia, pois, ó minh'alma: não te deixes vencer pelo sono! À morte tu serias entregue, para fora do Reino banida. Mas, acorda e clama: Santo, Sato, Santo és Tu, ó Deus! pelas orações da Mãe de Deus, tem piedade de nós!»
Meia-noite é o instante em que o dia velho termina para dar lugar a um novo dia. Esta hora é assim para o cristão o símbolo do tempo em que vive. Por um lado, a Igreja está ainda neste mundo, compartilhando de suas fraquezas e tragédias. Por outro, seu ser verdadeiro não é deste mundo, pois ela é a Esposa de Cristo e sua missão é de anunciar e revelar a chegada do Reino e do novo Dia. Sua vida é um velar perpétuo e uma espera, uma vigília orientada para a aurora desse novo Dia. . . mas nós sabemos o quanto nosso apego ao "velho dia," ao mundo, com suas paixões e pecados, permanece ainda bastante tenaz. Nós sabemos o quanto ainda pertencemos profundamente a "este mundo." Nós vimos a luz, nós conhecemos o Cristo, nós ouvimos falar da paz e da alegria da vida nova nele, e, entretanto, o mundo nos mantém ainda em escravidão. Esta fraqueza, esta constante traição ao Cristo e esta incapacidade de dedicar a totalidade do nosso amor ao único objeto de amor verdadeiro, são magnificamente expressadas no exapostilário desses três dias:
«Eu contemplo tua câmara nupcial, ó Salvador meu! Ela está toda enfeitada, e eu não tenho as vestes para nela entrar. Torna luminosa a roupagem da minha alma, ó Tu que dás a luz, e salva-me!»
O mesmo tema é ainda mais desenvolvido nas leituras do Evangelho destes dias. Primeiro, é o texto inteiro dos quatro evangelhos (até Jo 13.31), lido nas Horas (Prima, Tércia, Sexta, Nona), que mostra que a cruz é o apogeu de toda a vida de Jesus e de seu mistério, a chave para verdadeiramente o compreender. Tudo, no Evangelho, conduz a esta última "hora de Jesus" e tudo deve ser visto sob sua luz. Em seguida, cada ofício possui seu próprio pericópio de evangelho.
A Segunda-Feira Santa
Nas matinas: Mt 21,18-43 — a parábola da figueira estéril, símbolo do mundo criado para dar frutos espirituais e relutante em sua resposta a Deus.
Na liturgia dos Pré-santifícados: Mateus, 24,3-35 — o grande discurso escatológico de Jesus, os sinais e o anúncio do Fim. "O céu e a terra passarão, mas minhas palavras não passarão."
A Terça-Feira Santa
Nas matinas: Mateus 22,15-23,39 — condenação do farisaísmo, quer dizer, da religião cega e hipócrita daqueles que pensam que são condutores de homens e a luz do mundo, mas que, de fato, "fecham o Reino dos céus aos homens."
Na liturgia dos Pré-santifícados: Mateus 24,36-26,2 — o Fim; as parábolas do Fim: as cinco virgens que têm óleo suficiente em suas lâmpadas, e as cinco néscias que não são admitidas no banquete de núpcias; a parábola dos dez talentos: "Estejai prontos, pois eis que o Filho do Homem virá à hora em que não o pensais." E finalmente, o Juízo Final.
A Quarta-Feira Santa
Nas matinas: Jo 12,17-50 — a rejeição do Cristo; o acirramento do conflito; o último aviso: "É agora o julgamento deste mundo. . . aquele que me rejeita e não recebe minhas palavras terá seu juiz: a palavra que anunciei, ela é que o julgará no último dia."
Na liturgia dos Pré-santifícados: Mateus 26,6-16 — a mulher que derrama o óleo precioso sobre Jesus, imagem do amor e do arrependimento que, sozinhos, nos unem ao Cristo.
Estas perícopes do evangelho são explicadas e comentadas na hinografia desses dias: os estiquérios (stykeroi), as triodes (cânones curtos de três odes cantados nas matinas) ao longo dos quais ecoa esta exortação: o fim e o julgamento estão próximos, preparemo-nos!
«Indo, Senhor, para Tua Paixão voluntária, no caminho Tu dizias aos Teus apóstolos: Eis que subimos a Jerusalém e que o Filho do Homem será entregue, segundo o que d'Ele está escrito. Vamos, pois, nós também, acompanhemo-lo, o espírito purificado; sejamos crucificados com ele e morramos Nele para as volúpias da vida a fim de vivermos com ele e de escutá-lo dizer: "Eu não subo mais a Jerusalém terrestre para sofrer, mas subo para meu Pai e vosso Pai, para meu Deus e vosso Deus, e eu vos farei subir comigo para a Jerusalém do alto, no Reino dos Céus».
(Segunda-feira nas Matinas)
«Ó, minh'alma, eis que o Mestre te confiou um talento. Recebe este dom com temor; Faze-o frutificar para aquele que to deu; distribua-o aos pobres e tu terás o Senhor como amigo. Assim, quando Ele vier em Sua glória, tu ficarás a Sua direita e tu ouvirás a palavra bem-aventurada: "Entra, servo meu, na alegria de teu Mestre" "Em Tua grande misericórdia, faz que eu seja digno, apesar do meu afastamento, oh, Salvador!»
(Terça-feira nas Matinas)
Durante todo o tempo de quaresma, lê-se nas vésperas dois livros do Antigo Testamento: o Gênesis e os Provérbios; no começo da Semana Santa, eles são substituídos pelo Êxodo e pelo Livro de Jó. O Livro do Êxodo é a história da libertação de Israel da escravidão no Egito, e de sua Páscoa; ele nos predispõe a alcançar o sentido do êxodo do Cristo rumo a seu Pai, do cumprimento Nele de toda a história da salvação. Jó, o homem da dor, é o ícone de Cristo do Antigo Testamento. Esta leitura anuncia o grande mistério dos sofrimentos do Cristo, de sua obediência e de seu sacrifício.
A estrutura litúrgica destes três dias é ainda aquela dos ofícios de quaresma: ela compreende a oração de Santo Efrém, o Sírio, e as metanóias que o acompanham (1), a leitura mais longa do salmodiário, a Liturgia dos Pré-Santificados e o canto litúrgico da quaresma. Nós estamos ainda no tempo do arrependimento, porque só o arrependimento pode nos fazer participar da Páscoa de nosso Senhor e nos abrir as portas do festim pascal.
Na grande e santa quarta-feira, durante a última Liturgia dos Pré-santificados, depois de ter alçado os santos Dons sobre o altar, o padre lê uma última vez a oração de Santo Efrém. Neste momento, a preparação chega a termo. O Senhor nos convida agora para a sua última Ceia.
«Senhor e mestre de minha vida Afasta de mim o espírito de preguiça, o espírito de dissipação de domínio e de vã loquacidade Concede a teu servo o espírito da temperança de humildade de paciência e de caridade Sim, Senhor e Rei, Concede-me que veja as minhas faltas e que não julgue a meu irmão pois tu és bendito pelos séculos dos séculos. Amém».
(l) Esta oração, atribuída a Santo Efrém, o Sírio, é lida duas vezes ao final de cada ofício de quaresma, de segunda a sexta-feira: diz-se uma primeira vez fazendo uma metanóia depois de cada súplica; depois inclina-se doze vezes dizendo: "Ó Deus, purifica-me, pecador!"; por fim, repete-se toda a oração com uma última prosternação no final.
FONTE:
Alexandre Schmémann, Olivier Clément. «O Mistério Pascal - Comentários Litúrgicos»
Extraído do site ecclesia.com.br
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