«Grande
e Santa Segunda-Feira»
Na segunda-feira, recordamos o
Bem-aventurado José do Antigo Testamento, que foi espancado por seus irmãos,
deixado para morrer e escravizado por estrangeiros. Enquanto seu pai, Jacó,
sofria por seu filho, José reinava gloriosamente como um senhor do Egito, e
assim, depois, salvou seu pai e seu povo. Isso prefigura a salvação de Nosso
Senhor Jesus Cristo, que foi vendido por 30 moedas de prata, preso, condenado e
que sofreu Sua amarga Paixão por nós... para depois ascender gloriosamente,
tendo dado a vida para aqueles que estavam no túmulo!
«Grande e Santa Segunda-Feira»
Na segunda-feira, recordamos o
Bem-aventurado José do Antigo Testamento, que foi espancado por seus irmãos,
deixado para morrer e escravizado por estrangeiros. Enquanto seu pai, Jacó,
sofria por seu filho, José reinava gloriosamente como um senhor do Egito, e
assim, depois, salvou seu pai e seu povo. Isso prefigura a salvação de Nosso
Senhor Jesus Cristo, que foi vendido por 30 moedas de prata, preso, condenado e
que sofreu Sua amarga Paixão por nós... para depois ascender gloriosamente,
tendo dado a vida para aqueles que estavam no túmulo!
6º hora
Profecia do Livro de Ezequiel. Ez 1,1-20
Vésperas
Primeira Leitura: Livro do Êxodo: Ex 1,1-20
Estes pois são os
nomes dos filhos de Israel, que entraram no Egito com Jacó; cada um entrou com
sua casa: Rúben, Simeão, Levi, e Judá; Issacar, Zebulom, e Benjamim; Dã e
Naftali, Gade e Aser. Todas as almas, pois, que procederam dos lombos de Jacó,
foram setenta almas; José, porém, estava no Egito. Faleceu José, e todos os
seus irmãos, e toda aquela geração. E os filhos de Israel frutificaram,
aumentaram muito, e multiplicaram-se, e foram fortalecidos grandemente; de
maneira que a terra se encheu deles. E levantou-se um novo rei sobre o Egito,
que não conhecera a José; o qual disse ao seu povo: Eis que o povo dos filhos de
Israel é muito, e mais poderoso do que nós. Eia, usemos de sabedoria para com
eles, para que não se multipliquem, e aconteça que, vindo guerra, eles também
se ajuntem com os nossos inimigos, e pelejem contra nós, e subam da terra. E
puseram sobre eles maiorais de tributos, para os afligirem com suas cargas.
Porque edificaram a Faraó cidades-armazéns, Pitom e Ramessés. Mas quanto mais
os afligiam, tanto mais se multiplicavam, e tanto mais cresciam; de maneira que
se enfadavam por causa dos filhos de Israel. E os egípcios faziam servir os
filhos de Israel com dureza; assim que lhes fizeram amargar a vida com dura
servidão, em barro e em tijolos, e com todo o trabalho no campo; com todo o seu
serviço, em que os obrigavam com dureza. E o rei do Egito falou às parteiras
das hebréias (das quais o nome de uma era Sifrá, e o da outra Puá), e disse:
Quando ajudardes a dar à luz às hebréias, e as virdes sobre os assentos, se for
filho, matai-o; mas se for filha, então viva. As parteiras, porém, temeram a
Deus e não fizeram como o rei do Egito lhes dissera, antes conservavam os
meninos com vida. Então o rei do Egito chamou as parteiras e disse-lhes: Por
que fizestes isto, deixando os meninos com vida? E as parteiras disseram a
Faraó: É que as mulheres hebréias não são como as egípcias; porque são vivas, e
já têm dado à luz antes que a parteira venha a elas. Portanto Deus fez bem às
parteiras. E o povo se aumentou, e se fortaleceu muito.
Segunda Leitura:
Livro de Jó: Jó 1,1-12
Havia um homem na terra de Uz, cujo nome era
Jó; e era este homem íntegro, reto e temente a Deus e desviava-se do mal. E
nasceram-lhe sete filhos e três filhas. E o seu gado era de sete mil ovelhas,
três mil camelos, quinhentas juntas de bois e quinhentas jumentas; eram também
muitíssimos os servos a seu serviço, de maneira que este homem era maior do que
todos os do oriente. E iam seus filhos à casa uns dos outros e faziam banquetes
cada um por sua vez; e mandavam convidar as suas três irmãs a comerem e beberem
com eles. Sucedia, pois, que, decorrido o turno de dias de seus banquetes,
enviava Jó, e os santificava, e se levantava de madrugada, e oferecia
holocaustos segundo o número de todos eles; porque dizia Jó: Porventura pecaram
meus filhos, e amaldiçoaram a Deus no seu coração. Assim fazia Jó continuamente.
E num dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o Senhor, veio
também Satanás entre eles. Então o Senhor disse a Satanás: Donde vens? E
Satanás respondeu ao Senhor, e disse: De rodear a terra, e passear por ela. E
disse o Senhor a Satanás: Observaste tu a meu servo Jó? Porque ninguém há na
terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus, e que se desvia
do mal. Então respondeu Satanás ao Senhor, e disse: Porventura teme Jó a Deus
debalde? Porventura tu não cercaste de sebe, a ele, e a sua casa, e a tudo
quanto tem? A obra de suas mãos abençoaste e o seu gado se tem aumentado na
terra. Mas estende a tua mão, e toca-lhe em tudo quanto tem, e verás se não
blasfema contra ti na tua face. E disse o Senhor a Satanás: Eis que tudo quanto
ele tem está na tua mão; somente contra ele não estendas a tua mão. E Satanás
saiu da presença do Senhor.
Matinas
Evangelho: Mt 21,18-43
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, segundo o Evangelista São Mateus:
Naquele tempo, de manhã, voltando para a
cidade, teve fome; e, avistando uma figueira perto do caminho, dirigiu-se a
ela, e não achou nela senão folhas. E disse-lhe: Nunca mais nasça fruto de ti!
E a figueira secou imediatamente. E os discípulos, vendo isto, maravilharam-se,
dizendo: Como secou imediatamente a figueira? Jesus, porém, respondendo,
disse-lhes: Em verdade vos digo que, se tiverdes fé e não duvidardes, não só
fareis o que foi feito à figueira, mas até se a este monte disserdes: Ergue-te,
e precipita-te no mar, assim será feito; e, tudo o que pedirdes em oração,
crendo, o recebereis. E, chegando ao templo, acercaram-se dele, estando já
ensinando, os príncipes dos sacerdotes e os anciãos do povo, dizendo: Com que
autoridade fazes isto? e quem te deu tal autoridade? E Jesus, respondendo,
disse-lhes: Eu também vos perguntarei uma coisa; se ma disserdes, também eu vos
direi com que autoridade faço isto. O batismo de João, de onde era? Do céu, ou
dos homens? E pensavam entre si, dizendo: Se dissermos: Do céu, ele nos dirá:
Então por que não o crestes? E, se dissermos: Dos homens, tememos o povo,
porque todos consideram João como profeta. E, respondendo a Jesus, disseram:
Não sabemos. Ele disse-lhes: Nem eu vos digo com que autoridade faço isto. Mas,
que vos parece? Um homem tinha dois filhos, e, dirigindo-se ao primeiro, disse:
Filho, vai trabalhar hoje na minha vinha. Ele, porém, respondendo, disse: Não
quero. Mas depois, arrependendo-se, foi. E, dirigindo-se ao segundo, falou-lhe
de igual modo; e, respondendo ele, disse: Eu vou, senhor; e não foi. Qual dos
dois fez a vontade do pai? Disseram-lhe eles: O primeiro. Disse-lhes Jesus: Em
verdade vos digo que os publicanos e as meretrizes entram adiante de vós no
reino de Deus. Porque João veio a vós no caminho da justiça, e não o crestes,
mas os publicanos e as meretrizes o creram; vós, porém, vendo isto, nem depois
vos arrependestes para o crer. Ouvi, ainda, outra parábola: Houve um homem, pai
de família, que plantou uma vinha, e circundou-a de um valado, e construiu nela
um lagar, e edificou uma torre, e arrendou-a a uns lavradores, e ausentou-se
para longe. E, chegando o tempo dos frutos, enviou os seus servos aos
lavradores, para receber os seus frutos. E os lavradores, apoderando-se dos
servos, feriram um, mataram outro, e apedrejaram outro. Depois enviou outros
servos, em maior número do que os primeiros; e eles fizeram-lhes o mesmo. E,
por último, enviou-lhes seu filho, dizendo: Terão respeito a meu filho. Mas os
lavradores, vendo o filho, disseram entre si: Este é o herdeiro; vinde,
matemo-lo, e apoderemo-nos da sua herança. E, lançando mão dele, o arrastaram
para fora da vinha, e o mataram. Quando, pois, vier o senhor da vinha, que fará
àqueles lavradores? Dizem-lhe eles: Dará afrontosa morte aos maus, e arrendará
a vinha a outros lavradores, que a seu tempo lhe dêem os frutos. Diz-lhes
Jesus: Nunca lestes nas Escrituras:A pedra, que os edificadores rejeitaram,essa
foi posta por cabeça do ângulo;pelo Senhor foi feito isto,E é maravilhoso aos
nossos olhos? Portanto, eu vos digo que o reino de Deus vos será tirado, e será
dado a uma nação que dê os seus frutos.
Liturgia dos Pré-Santificados
Tropário:
Eis
que o esposo vem no meio da noite.Feliz o servo que ele encontrar vigilante Aquele, porém, que encontrar imprevidente, será considerado indigno de
acompanhá-lo. Acautela-te, pois, ó minha alma, a fim de que não sejas entregue à
morte e fiques fora das portas do Reino. Mas, desperta, clamando: "Santo, Santo, Santo és ó Senhor! Pela intercessão da Mãe de Deus, tem piedade de nós!
Kondakion:
Enquanto
Jacó chorava a perda de José, este destemido estava num trono, venerado
como rei. Tendo se recusado, naquela época, a se curvar aos prazeres
dos egípcios, engrandeceu-o, Aquele que sonda os corações humanos e lhe dá
a coroa imperecível.
Epístola: At 10,34-43
Leitura do Livro dos
Atos dos Apóstolos:
E abrindo Pedro a boca, disse: Reconheço por
verdade que Deus não faz acepção de pessoas; mas que lhe é agradável aquele
que, em qualquer nação, o teme e faz o que é justo. A palavra que ele enviou
aos filhos de Israel, anunciando a paz por Jesus Cristo (este é o Senhor de
todos); esta palavra, vós bem sabeis, veio por toda a Judéia, começando pela
Galiléia, depois do batismo que João pregou; como Deus ungiu a Jesus de Nazaré
com o Espírito Santo e com virtude; o qual andou fazendo bem, e curando a todos
os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele. E nós somos testemunhas de
todas as coisas que fez, tanto na terra da Judéia como em Jerusalém; ao qual
mataram, pendurando-o num madeiro. A este ressuscitou Deus ao terceiro dia, e
fez que se manifestasse, não a todo o povo, mas às testemunhas que Deus antes
ordenara; a nós, que comemos e bebemos juntamente com ele, depois que
ressuscitou dentre os mortos. E nos mandou pregar ao povo, e testificar que ele
é o que por Deus foi constituído juiz dos vivos e dos mortos. A este dão
testemunho todos os profetas, de que todos os que nele crêem receberão o perdão
dos pecados pelo seu nome.
Evangelho: Mt 24,3-35
Evangelho
de Nosso Senhor Jesus Cristo, segundo o Evangelista São Mateus:
Naquele tempo, estando assentado no Monte das
Oliveiras, chegaram-se a ele os seus discípulos em particular, dizendo:
Dize-nos, quando serão essas coisas, e que sinal haverá da tua vinda e do fim
do mundo? E Jesus, respondendo, disse-lhes: Acautelai-vos, que ninguém vos
engane; porque muitos virão em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo; e enganarão
a muitos. E ouvireis de guerras e de rumores de guerras; olhai, não vos
assusteis, porque é mister que isso tudo aconteça, mas ainda não é o fim.
Porquanto se levantará nação contra nação, e reino contra reino, e haverá fomes,
e pestes, e terremotos, em vários lugares. Mas todas estas coisas são o
princípio de dores. Então vos hão de entregar para serdes atormentados, e
matar-vosão; e sereis odiados de todas as nações por causa do meu nome. Nesse
tempo muitos serão escandalizados, e trair-se-ão uns aos outros, e uns aos
outros se odiarão. E surgirão muitos falsos profetas, e enganarão a muitos. E,
por se multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos esfriará. Mas aquele que
perseverar até ao fim, esse será salvo. E este evangelho do reino será pregado
em todo o mundo, em testemunho a todas as nações, e então virá o fim. Quando,
pois, virdes que a abominação da desolação, de que falou o profeta Daniel, está
no lugar santo; quem lê, entenda; então, os que estiverem na Judéia, fujam para
os montes; e quem estiver sobre o telhado não desça a tirar alguma coisa de sua
casa; e quem estiver no campo não volte atrás a buscar as suas vestes. Mas ai
das grávidas e das que amamentarem naqueles dias! E orai para que a vossa fuga
não aconteça no inverno nem no sábado; porque haverá então grande aflição, como
nunca houve desde o princípio do mundo até agora, nem tampouco há de haver. E,
se aqueles dias não fossem abreviados, nenhuma carne se salvaria; mas por causa
dos escolhidos serão abreviados aqueles dias. Então, se alguém vos disser: Eis
que o Cristo está aqui, ou ali, não lhe deis crédito; porque surgirão falsos
cristos e falsos profetas, e farão tão grandes sinais e prodígios que, se
possível fora, enganariam até os escolhidos. Eis que eu vo-lo tenho predito.
Portanto, se vos disserem: Eis que ele está no deserto, não saiais. Eis que ele
está no interior da casa; não acrediteis. Porque, assim como o relâmpago sai do
oriente e se mostra até ao ocidente, assim será também a vinda do Filho do homem.
Pois onde estiver o cadáver, aí se ajuntarão as águias. E, logo depois da
aflição daqueles dias, o sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz, e as
estrelas cairão do céu, e as potências dos céus serão abaladas. Então aparecerá
no céu o sinal do Filho do homem; e todas as tribos da terra se lamentarão, e
verão o Filho do homem, vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande
glória. E ele enviará os seus anjos com rijo clamor de trombeta, os quais
ajuntarão os seus escolhidos desde os quatro ventos, de uma à outra extremidade
dos céus. Aprendei, pois, esta parábola da figueira: Quando já os seus ramos se
tornam tenros e brotam folhas, sabeis que está próximo o verão. Igualmente,
quando virdes todas estas coisas, sabei que ele está próximo, às portas. Em
verdade vos digo que não passará esta geração sem que todas estas coisas
aconteçam. O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão de passar.
Sinaxe
Pe. Paulo A. Tamanini
Segunda, Terça e Quarta-feira Santa: o
Fim
Esses três dias, que a Igreja chama de grandes e
santos, têm, dentro do desenrolar da semana santa, uma finalidade bem definida.
Eles situam as celebrações dentro da perspectiva do Fim, eles nos relembram o
sentido escatológico da Páscoa. Muito freqüentemente a semana santa é
considerada como uma "linda tradição," um "costume," uma
data importante do calendário. É o acontecimento anual esperado e amado, a
Festa "observada" desde a infância, durante a qual a gente se encanta
com a beleza dos ofícios, com o fausto dos ritos, e na qual a gente se ocupa de
preparar a ceia pascal, que não é de menor importância. . . Depois, uma vez que
tudo isto tenha acabado, nós retomamos a vida normal. Mas, teremos mesmo
consciência de que "a vida normal" não é mais possível depois que o
mundo rejeitou seu Salvador, depois que "Jesus ficou triste e abatido..
.," que sua alma "ficou infinitamente triste até a morte..." e
que ele morreu na cruz? Foram mesmo homens "normais" que gritaram:
"Crucifica-o!" Homens normais que cuspiram nele e o pregaram na cruz.
. . Se eles o odiaram e o mataram, é precisamente porque ele veio sacudir e
desestabilizar sua vida normal. Foi mesmo um mundo perfeitamente
"normal" que preferiu as trevas e a morte, em lugar da vida e da luz.
. . pela morte de Jesus o mundo "normal," a vida "normal"
foram irrevogavelmente condenados. Ou, mais exatamente, o mundo e a vida
revelaram sua natureza verdadeira e anormal, sua incapacidade de acolher a luz,
o terrível poder que o mal exerce sobre eles. "É agora o julgamento deste
mundo" (Jo 12,31). A Páscoa de Jesus significa o fim para "este
mundo" e, desde então, ele está "no seu fim." Este fim pode se
estender por centenas de séculos, mas isto não altera em nada a natureza dos
tempos em que vivemos, que é "o último tempo." "O rosto deste
mundo passa" (ICor 7,31).
Páscoa significa "passagem"; para os judeus
a festa da Páscoa era a comemoração anual de toda sua história, enquanto
salvação, e da salvação enquanto passagem da escravidão no Egito à liberdade,
do exílio à Terra prometida. A Páscoa era também a prefiguração da derradeira
passagem, que conduz ao Reino de Deus. Ele, o Cristo, é o cumprimento da
Páscoa. Ele completou a derradeira passagem, a da morte para a vida, deste
"mundo velho" ao mundo novo, ao tempo novo do Reino. Ele tornou
possível para nós esta passagem. Vivendo "neste mundo," nós podemos
já "não ser deste mundo"; quer dizer, estarmos livres da escravidão
da morte e do pecado, participantes do "mundo que há de vir." Mas, é
necessário para tanto cumprirmos nossa própria passagem, condenar o velho Adão
em nós mesmos, revestir o Cristo na morte batismal e ter nossa verdadeira vida
oculta em Deus com o Cristo, no "mundo que há de vir..."
A Páscoa não é, pois, mais uma comemoração, bonita e
solene, de um acontecimento passado. É o próprio acontecimento manifestado,
dado a nós, acontecimento sempre eficiente, que revela que o nosso mundo, nosso
tempo e nossa vida estão no seu fim, e que anuncia o começo da vida nova. O
papel dos três primeiros dias da semana santa é, precisamente, o de nos colocar
diante do sentido último da Páscoa, de nos preparar para compreendê-la em toda
sua amplidão.
Esta orientação escatológica, quer dizer, última,
decisiva e final, é bem sublinhada pelo tropário comum a esses três dias:
«Eis que aparece
o Esposo no meio da noite! Feliz o cervo que Ele encontrar acordado, infeliz o
que Ele encontrar indolente. Vigia, pois, ó minh'alma: não te deixes vencer
pelo sono! À morte tu serias entregue, para fora do Reino banida. Mas, acorda e
clama: Santo, Sato, Santo és Tu, ó Deus! pelas orações da Mãe de Deus, tem
piedade de nós!»
Meia-noite é o instante em que o dia velho termina
para dar lugar a um novo dia. Esta hora é assim para o cristão o símbolo do
tempo em que vive. Por um lado, a Igreja está ainda neste mundo, compartilhando
de suas fraquezas e tragédias. Por outro, seu ser verdadeiro não é deste mundo,
pois ela é a Esposa de Cristo e sua missão é de anunciar e revelar a chegada do
Reino e do novo Dia. Sua vida é um velar perpétuo e uma espera, uma vigília
orientada para a aurora desse novo Dia. . . mas nós sabemos o quanto nosso
apego ao "velho dia," ao mundo, com suas paixões e pecados, permanece
ainda bastante tenaz. Nós sabemos o quanto ainda pertencemos profundamente a
"este mundo." Nós vimos a luz, nós conhecemos o Cristo, nós ouvimos
falar da paz e da alegria da vida nova nele, e, entretanto, o mundo nos mantém
ainda em escravidão. Esta fraqueza, esta constante traição ao Cristo e esta
incapacidade de dedicar a totalidade do nosso amor ao único objeto de amor
verdadeiro, são magnificamente expressadas no exapostilário desses três dias:
«Eu
contemplo tua câmara nupcial, ó Salvador meu! Ela está toda enfeitada, e eu não
tenho as vestes para nela entrar. Torna luminosa a roupagem da minha alma, ó Tu
que dás a luz, e salva-me!»
O mesmo tema é ainda mais desenvolvido nas leituras do
Evangelho destes dias. Primeiro, é o texto inteiro dos quatro evangelhos (até
Jo 13.31), lido nas Horas (Prima, Tércia, Sexta, Nona), que mostra que a cruz é
o apogeu de toda a vida de Jesus e de seu mistério, a chave para
verdadeiramente o compreender. Tudo, no Evangelho, conduz a esta última
"hora de Jesus" e tudo deve ser visto sob sua luz. Em seguida, cada
ofício possui seu próprio pericópio de evangelho.
A Segunda-Feira Santa
Nas
matinas: Mt 21,18-43 — a parábola da figueira estéril, símbolo do mundo criado
para dar frutos espirituais e relutante em sua resposta a Deus.
Na
liturgia dos Pré-santifícados: Mateus, 24,3-35 — o grande discurso escatológico
de Jesus, os sinais e o anúncio do Fim. "O céu e a terra passarão, mas
minhas palavras não passarão."
A Terça-Feira Santa
Nas
matinas: Mateus 22,15-23,39 — condenação do farisaísmo, quer dizer, da religião
cega e hipócrita daqueles que pensam que são condutores de homens e a luz do
mundo, mas que, de fato, "fecham o Reino dos céus aos homens."
Na
liturgia dos Pré-santifícados: Mateus 24,36-26,2 — o Fim; as parábolas do Fim:
as cinco virgens que têm óleo suficiente em suas lâmpadas, e as cinco néscias
que não são admitidas no banquete de núpcias; a parábola dos dez talentos:
"Estejai prontos, pois eis que o Filho do Homem virá à hora em que não o
pensais." E finalmente, o Juízo Final.
A Quarta-Feira Santa
Nas
matinas: Jo 12,17-50 — a rejeição do Cristo; o acirramento do conflito; o
último aviso: "É agora o julgamento deste mundo. . . aquele que me rejeita
e não recebe minhas palavras terá seu juiz: a palavra que anunciei, ela é que o
julgará no último dia."
Na
liturgia dos Pré-santifícados: Mateus 26,6-16 — a mulher que derrama o óleo
precioso sobre Jesus, imagem do amor e do arrependimento que, sozinhos, nos
unem ao Cristo.
Estas
perícopes do evangelho são explicadas e comentadas na hinografia desses dias:
os estiquérios (stykeroi), as triodes (cânones curtos de três odes cantados nas
matinas) ao longo dos quais ecoa esta exortação: o fim e o julgamento estão
próximos, preparemo-nos!
«Indo,
Senhor, para Tua Paixão voluntária, no caminho Tu dizias aos Teus apóstolos: Eis
que subimos a Jerusalém e que o Filho do Homem será entregue, segundo o que
d'Ele está escrito. Vamos, pois, nós também, acompanhemo-lo, o espírito
purificado; sejamos crucificados com ele e morramos Nele para as volúpias da
vida a fim de vivermos com ele e de escutá-lo dizer: "Eu não subo mais a
Jerusalém terrestre para sofrer, mas subo para meu Pai e vosso Pai, para meu
Deus e vosso Deus, e eu vos farei subir comigo para a Jerusalém do alto, no
Reino dos Céus».
(Segunda-feira nas Matinas)
«Ó,
minh'alma, eis que o Mestre te confiou um talento. Recebe este dom com temor; Faze-o
frutificar para aquele que to deu; distribua-o aos pobres e tu terás o Senhor
como amigo. Assim, quando Ele vier em Sua glória, tu ficarás a Sua direita e tu
ouvirás a palavra bem-aventurada: "Entra,
servo meu, na alegria de teu Mestre" "Em Tua grande misericórdia, faz
que eu seja digno, apesar do meu afastamento, oh, Salvador!»
(Terça-feira nas Matinas)
Durante
todo o tempo de quaresma, lê-se nas vésperas dois livros do Antigo Testamento:
o Gênesis e os Provérbios; no começo da Semana Santa, eles são substituídos
pelo Êxodo e pelo Livro de Jó. O Livro do Êxodo é a história da libertação de
Israel da escravidão no Egito, e de sua Páscoa; ele nos predispõe a alcançar o
sentido do êxodo do Cristo rumo a seu Pai, do cumprimento Nele de toda a
história da salvação. Jó, o homem da dor, é o ícone de Cristo do Antigo
Testamento. Esta leitura anuncia o grande mistério dos sofrimentos do Cristo,
de sua obediência e de seu sacrifício.
A
estrutura litúrgica destes três dias é ainda aquela dos ofícios de quaresma:
ela compreende a oração de Santo Efrém, o Sírio, e as metanóias que o
acompanham (1), a leitura mais longa do salmodiário, a Liturgia dos
Pré-Santificados e o canto litúrgico da quaresma. Nós estamos ainda no tempo do
arrependimento, porque só o arrependimento pode nos fazer participar da Páscoa
de nosso Senhor e nos abrir as portas do festim pascal.
Na
grande e santa quarta-feira, durante a última Liturgia dos Pré-santificados,
depois de ter alçado os santos Dons sobre o altar, o padre lê uma última vez a
oração de Santo Efrém. Neste momento, a preparação chega a termo. O Senhor nos
convida agora para a sua última Ceia.
«Senhor e
mestre de minha vida Afasta de mim o espírito de preguiça, o espírito de
dissipação de domínio e de vã loquacidade Concede a teu servo o espírito da
temperança de humildade de paciência e de caridade Sim, Senhor e Rei, Concede-me
que veja as minhas faltas e que não julgue a meu irmão pois tu és bendito pelos
séculos dos séculos. Amém».
(l) Esta oração, atribuída a Santo Efrém, o Sírio, é lida duas vezes
ao final de cada ofício de quaresma, de segunda a sexta-feira: diz-se uma
primeira vez fazendo uma metanóia depois de cada súplica; depois inclina-se
doze vezes dizendo: "Ó Deus, purifica-me, pecador!"; por fim,
repete-se toda a oração com uma última prosternação no final.
FONTE:
Alexandre
Schmémann, Olivier Clément. «O Mistério Pascal - Comentários Litúrgicos»
Extraído
do site ecclesia.com.br
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