III Domingo de Lucas
O «III Domingo do Evangelho de Lucas»
À entrada
de Naím, cruzam-se dois cortejos: o da morte, que sai da cidade, e o da Vida,
que entra com o Senhor. Lucas, único a narrar este gesto, reconhece nele um
sinal messiânico: o que Isaías prometera — olhos que se abrem, coxos que
saltam, línguas que cantam (Is 35,5-6) — cumpre-se agora, e até os mortos
ressuscitam (cf. Lc 7,22). Mas o núcleo do relato não é apenas um prodígio: é a
compaixão do Verbo feito carne, uma compaixão que vê, comove-se e age.
“Vendo-a, o Senhor compadeceu-Se dela e disse: ‘Não chores’” (Lc 7,13). Em
seguida, toca o esquife — gesto ousado, porque a Lei temia a contaminação — e
ordena: “Jovem, Eu te digo: levanta-te!” (Lc 7,14). Santo Ambrósio nota que
Cristo toca o esquife para mostrar que “a santidade não se contamina: ela é que
vence o contágio da morte” (Expos. in Luc. VII). Cirilo de Alexandria
sublinha que a palavra do Verbo “dá o que ordena”: manda levantar e concede
vida; manda falar e abre a boca do ressuscitado (Comm. in Luc.). O povo
entende: “Deus visitou o Seu povo” (Lc 7,16).
Este
encontro pascal entre o cortejo da morte e a caravana da vida revela o coração
de Deus. Em Lucas, a compaixão não é sentimento vago, mas energia recriadora. O
Senhor não espera ser solicitado, nem exige declaração de fé prévia: É Ele quem
toma a iniciativa, porque “o Pai é compassivo” (cf. Lc 6,36) e o Filho é a Sua
compaixão em pessoa. João Crisóstomo dirá que a misericórdia de Cristo “não
apenas consola: cria futuro” (Hom. in Matt./Luc.). Por isso o gesto em Naím é
prólogo da Páscoa: o que acontece num vilarejo anuncia o que sucederá ao mundo
no terceiro dia. E, no entanto, este mesmo Senhor que vence a morte com uma
palavra é Aquele que aceitará a fraqueza, a humilhação e a Cruz. Aqui a
Epístola ilumina o Evangelho.
Nos
capítulos finais de 2Coríntios, São Paulo combate o triunfalismo religioso e
apresenta suas credenciais apostólicas: não espetáculos, mas fraquezas
suportadas em Cristo. Ele lembra a fuga humilhante de Damasco (2Cor 11,31-33),
alude com pudor a arrebatamentos (12,1-4), mas detém-se no “espinho na carne”
(12,7-9). Três vezes suplica que o Senhor o retire; e recebe a resposta que
atravessará a história da Igreja: “Basta-te a Minha graça; o poder se
aperfeiçoa na fraqueza” (12,9). O Apóstolo aprende, então, a gloriar-se nas
fraquezas, não por masoquismo, mas para que “habite em mim o poder de Cristo”
(12,9b). Gregório Palamás lerá aqui a pedagogia da kenosis: Deus se revela
onde consentimos em esvaziar-nos, e é justamente aí que a Sua força habita.
Isaac, o Sírio, dirá no mesmo sentido: “O humilde é o cofre no qual Deus Se
compraz” (Hom. 36).
“Naím”
e “o espinho”, tomados juntos, ensinam a mesma lógica pascal sob dois ângulos.
Em Naím, contemplamos a iniciativa gratuita do Deus-Conosco: Ele vê,
aproxima-Se, toca, fala, levanta e restitui o filho à mãe. Em Paulo, aprendemos
a resposta fiel do discípulo: acolher a própria limitação como lugar onde
Cristo habita com poder. A compaixão que nos levanta torna-se, em nós, graça
que sustém. E assim se entrelaçam misericórdia e santidade: Deus visita o Seu
povo (Lc 7,16) para fazê-lo Seu templo (cf. 2Cor 6,16), e o templo mostra a
presença do Hóspede quando, na fraqueza, permanece de pé pela graça.
Daqui
brotam indicações pastorais muito concretas. Primeiro, a viúva: figura das
pessoas socialmente vulneráveis — solitárias, enlutadas, sem rede de apoio. A
Igreja primitiva organizou serviço às viúvas (At 6,1) e Tiago chamou de
“religião pura” o cuidado de viúvas e órfãos (Tg 1,27). Onde uma comunidade
assume esta compaixão — visita, escuta, providência humilde —, Cristo toca o
esquife hoje. Segundo, o jovem: quantos, entre nós, parecem “como mortos” por
dependências, violências, desesperança? A palavra próxima — um encontro fiel,
um acompanhamento real, uma amizade perseverante — pode ser início de
ressurreição. Não é retórica: “Jovem, Eu te digo: levanta-te!” traduz-se em
processos, tempo dado, presença que não desiste. Terceiro, o luto: a compaixão
cristã não foge do cortejo fúnebre; aproxima-se, toca, fala, permanece. Ritos
bem preparados, memória dos falecidos, proximidade concreta às famílias — tudo
isso é Evangelho em ato.
E
quanto a nós, ministros, Paulo impede duas tentações simétricas. A primeira, a
vergonha da fraqueza: quando escondemos os espinhos, damos a impressão de que a
vida cristã é performance; mas o povo aprende mais quando percebe que a graça
sustém também o pastor. A segunda, o culto da impotência: a fraqueza sem Cristo
vira desculpa; com Cristo, torna-se lugar de habitação do Seu poder. A homilia
deste domingo pode dizer ao povo, sem romancear a dor: o Senhor vê a tua
lágrima, aproxima-Se da tua perda, toca o teu esquife, e, ao mesmo tempo,
ensina a viver com aquilo que ainda não mudou, dizendo-nos como a Paulo:
“Basta-te a Minha graça”.
A
leitura anagógica de Naím abre-nos ao fim: esta ressurreição é sinal da Páscoa
universal. Ireneu reconhecerá aqui a recapitulação: o Verbo restitui os filhos
à Mãe, ensaio do dia em que Deus será tudo em todos (1Cor 15,28). Atanásio
lembrará: o Filho assumiu a morte para aniquilá-la (De Incarnatione). Cada ato
de compaixão e cada “sim” dito na fraqueza dilatam em nós a capacidade da
Páscoa — a theosis. Por isso, quando a comunidade participa do luto de uma
família, quando um jovem reencontra o caminho pela mão firme de um irmão,
quando alguém suporta o seu “espinho” em Cristo, o Reino já desponta.
No
final, colocamos tudo sob o olhar da Theotokos. Ela conheceu a espada que
traspassa a alma (cf. Lc 2,35) e permaneceu aos pés da Cruz (Jo 19,25). Nela
vemos a Igreja que não foge do sofrimento, mas permanece, até que a Palavra do
Filho faça ouvir de novo: “Levanta-te!”. Que Ela nos ensine a compaixão que
restitui e a fé humilde que sustém, para que, na cidade onde vivemos, os dois
cortejos se cruzem outra vez — e a caravana da Vida prevaleça.
Extraído do site: ecclesia.com.br
Vida dos Santos
Data de celebração: 19/10/2025
Tipo de festa: Fixa
Santo (a) do dia: Santo Profeta Joel (séc. VI a.C)
Biografia:
Hino do dia
Extraído do site: Ορθόδοξος Συναξαριστής (Livro Ortodoxo dos Santos)
Celebrações do dia
1. Profeta Joel
2. Santa Cleopatra
3. São Sadote o Bispo e os Cento e Vinte Mártires da Pérsia
4. São Ouarus
5. Santos Seis Santos Mártires são eremitas
6. São Mnason, o antigo discípulo
7. São Leôncio o filósofo
8. Santos Félix, o Velho e Eusébio, o Diácono
9. São João, o milagreiro que praticou no Monte Rila
10. Encontro da Virgem Maria em Mouzaki, Karditsa
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