6º Domingo de Lucas
VI Domingo do Evangelho de Lucas: «O Endemoninhado de Gerasa – A compaixão que liberta e restitui».
O Evangelho
de hoje é proclamado também por Mateus (8,28-34) e Marcos (5,1-20). Os três
Evangelistas convergem em dois momentos decisivos:
o
encontro de Jesus com um homem devastado pela violência interior e pelo poder
da morte;
o
gesto libertador do Senhor que o restitui à sua humanidade.
O poder libertador da Palavra
Lucas
situa este episódio após a tempestade acalmada — e não por acaso.
A
mesma voz que serenou as águas agora enfrenta o abismo espiritual.
O
homem de Gerasa vive entre os túmulos, isolado, sem roupas, possuído por uma
força que o desumaniza.
É
o retrato do mundo pagão, e também de cada coração ferido pelo pecado: uma vida
habitada pela violência, pela solidão e pela ausência de sentido.
Quando
o demônio grita: “O que queres de mim, Jesus, Filho do Deus Altíssimo?”, a
cena recorda o drama cósmico do mal que teme a presença do Bem.
O
Evangelho fala de uma “legião” — palavra que designava uma tropa
romana de seis mil soldados. É a imagem de um mal organizado, sistemático, que
pretende dominar o homem por inteiro.
Mas o contraste é absoluto: diante da simplicidade da palavra de Cristo, a
multidão dos espíritos se dissolve.
A
força destruidora é vencida pela autoridade serena da Palavra.
Santo
Cirilo de Alexandria observa que o demônio tenta resistir revelando o nome de
Jesus — o que, no simbolismo do exorcismo antigo, era uma tentativa de exercer
poder sobre o adversário.
Mas
o Verbo eterno não precisa de fórmulas: a sua palavra é criadora e
libertadora, e onde ela ressoa, o homem é restituído a si mesmo.
A libertação que restitui
A
cena dos porcos, que à primeira vista escandaliza, não é acessório, mas
símbolo.
Naquela região gentílica, os porcos eram animais usados em sacrifícios pagãos e
também símbolo da força imperial romana — a Legio X Fretensis, cuja
insígnia trazia um javali.
Assim, quando os demônios entram nos porcos e precipitam-se no abismo, o
Evangelho anuncia o colapso das idolatrias: o poder da morte, do império e do
medo é lançado de volta às trevas.
A
Palavra de Cristo não apenas liberta o homem, mas purifica o ambiente em
que ele vive, restabelecendo a ordem da criação.
O
resultado é pascal:
“Sentaram-se
aos pés de Jesus, vestidos e em perfeito juízo.”
O
homem nu e selvagem torna-se discípulo, reintegrado na comunhão humana e
divina.
É o mesmo movimento de Naím, sob outra forma: a compaixão que vê e se aproxima
torna-se graça que recria e sustém.
A reação e o mistério da liberdade
Mas
o Evangelho não termina com aplausos.
A
população, temendo o que não entende e lamentando a perda dos porcos, pede que
Jesus se retire.
O
contraste é doloroso: a cidade expulsa o Salvador para proteger seus
interesses.
Aqui
Dom Tarasios via o ponto central:
“O
homem reintegrado vale menos que o lucro dos porcos.”
A
raiz mais profunda do poder demoníaco está, portanto, na liberdade humana
disposta a negociar a dignidade do outro por causa do poder ou do interesse.
Quando
o lucro pesa mais que a vida, o mal encontra terreno fértil.
Mas
Jesus não reage com condenação: deixa na região um testemunho vivo, o
homem curado — o primeiro missionário entre os gentios.
O que antes vivia entre os mortos torna-se apóstolo da vida, pregando em toda a
Decápole o que Deus fizera por ele.
A mensagem para nós
O
Evangelho de Gerasa é uma parábola da humanidade moderna:
vivemos
entre túmulos simbólicos — do individualismo, da violência, da idolatria do
poder — e, muitas vezes, expulsamos Cristo das nossas “regiões” para não
perturbar o conforto dos porcos.
Mas
também hoje, Cristo atravessa o lago da nossa indiferença e vem ao nosso
encontro.
Ele
continua a libertar, a restituir, a chamar cada ser humano a sentar-se “em
perfeito juízo”, isto é, na comunhão do Reino.
São
Gregório Palamás diria:
“O
mesmo Cristo que acalma as águas exteriores é Aquele que pacifica o coração
dividido.”
Assim,
o exorcismo de Gerasa é mais que um prodígio: é um ícone da Páscoa —
o Senhor que vence as forças do caos e nos devolve à liberdade dos filhos de
Deus.
O
discípulo curado é sinal de missão: quem foi libertado torna-se testemunha.
A compaixão que nos recria é também a graça que nos envia.
Que
a Theotokos, Porta intransitável do Senhor, nos ajude a reconhecer o
Cristo que vem, não para condenar, mas para libertar; não para negociar com o
mal, mas para destruí-lo com o poder de Sua palavra.
E que, à semelhança do geraseno curado, nós também voltemos à nossa casa — à
Igreja, à comunidade, à oração — proclamando o que o Senhor fez por nós.
Referências Bibliográficas e Patrísticas
- Evangelho segundo São Lucas 8, 26-39
- Evangelho segundo São Marcos 5, 1-20
- Evangelho segundo São Mateus 8, 28-34
- Isaías 35, 5-6 – Os sinais messiânicos da vida que retorna.
- 2 Coríntios 12, 7-9 – “A minha graça te basta; o poder se aperfeiçoa na fraqueza.”
- São Cirilo de Alexandria, Commentarius in Lucam – Sobre o poder criador e libertador da Palavra.
- São João Crisóstomo, Homiliae in Matthaeum – Sobre a autoridade de Cristo sobre os espíritos impuros.
- Santo Ambrósio de Milão, Expositio Evangelii secundum Lucam – Sobre a santidade que não se contamina, mas purifica.
- São Gregório Palamás, Homilia 33 – Cristo que pacifica as águas exteriores e o coração dividido.
- Santo Atanásio, De Incarnatione Verbi – O Filho que assume a morte para aniquilá-la.
- Santo Ireneu de Lião, Adversus Haereses III, 19 – O Verbo que recapitula todas as coisas e restitui os filhos à Mãe.
- São Isaac, o Sírio, Homilia 36 – “O humilde é o cofre no qual Deus Se compraz.”
- TARASIOS, Arcebispo Metropolitano de Buenos Aires e Exarca da América do Sul.
- Homilia na Divina Liturgia, Igreja de São João, o Teólogo – São José (SC), 24 de outubro de 2010.
- CARVAJAL, Francisco F. Falar com Deus. São Paulo: Quadrante, 1991.
- GOA Archdiocesan Service of Divine Worship. Orthros Texts: Octoechos and Menaion. (Atenas, edição digital litúrgica).
- Sinaxarion da Igreja de Constantinopla. Edição grega oficial, Patriarcado Ecumênico.
Extraído do site: ecclesia.com.br
O Santo Grande Mártir Demétrio, o Mirra
Vida dos Santos
Data de celebração: 26/10/2025
Tipo de festa: Fixa
Santo (a) do dia: São Demétrio de Salônica, Megalomártir, († c. 306)
Biografia:
Hino do dia
Extraído do site: Ορθόδοξος Συναξαριστής (Livro Ortodoxo dos Santos)
Celebrações do dia
1. São Dimitrios, a miroblite
2. Memória do Grande Terremoto
3. Memória da transferência do ícone de São Demétrio para Constantinopla
4. Saint Luppus
5. Santos Artemidoros e Manjericão
6. Saint Leptina
7. Saint Sweet
8. São Joasaf, o jovem mártir
9. Remoção das relíquias sagradas pelo neo-mártir George de Ioannina
10. São Leontino, o mártir
11. Vinte e dois leontianos em Athos
12. Santa Eata de Hexham
13. São Teófilo, o Arcebispo de Novgorod
14. Santo Antônio Bispo de Vologda da Rússia
Extraído do site: Ορθόδοξος Συναξαριστής (Livro Ortodoxo dos Santos)
Leituras do dia
Matinas - João 20, 19-31
Epístola - II Timóteo 2, 1-10
Evangelho - Lucas 8, 29-39
Extraído do site: Ορθόδοξος Συναξαριστής (Livro Ortodoxo dos Santos)
Jejum
Livre
Permitido todos os alimentos
Extraído do site: Ορθόδοξος Συναξαριστής (Livro Ortodoxo dos Santos)
Extraído do site: Ορθόδοξος Συναξαριστής (Livro Ortodoxo dos Santos)


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